Sensibilizar docentes sobre a questão racial ainda é uma questão que a universidade precisa enfrentar, afirma professora Gracinete Bastos

25/07/2023

A ampliação das políticas afirmativas nas universidades foi responsável por um aumento significativo de estudantes negras (os) com melhores condições de acesso e permanência. Apesar disso, ainda há muito para avançar para que a universidade seja um espaço de fato acolhedor para a juventude negra. De modo geral, os cursos de exatas são os que menos agregam mulheres, principalmente, as negras. Apesar disso, na Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS), a percepção da professora do Departamento de Exatas (DEXA), Gracinete Bastos, é de que os cursos de exatas, sobretudo, as engenharias têm recebido um número considerável de mulheres negras: “Pela minha experiência, o curso de matemática, por exemplo, sempre teve mais meninas eu acredito também que é por ser uma licenciatura, mas, sem dúvida, a política de cotas contribui para o acesso maior de mulheres negras”, afirma a professora.

 

De acordo com o estudo do Dieese “Perfil Ocupacional das Profissionais de Engenharia no Brasil”, a participação feminina no setor aumentou 4% de 2003 a 2013. Para a professora Gracinete, esse cenário tem que ser relativizado, uma vez, que mesmo em determinadas instituições é perceptível uma maior participação de mulheres negras, o que não significa que essa presença resulte na menor incidência de preconceito e discriminação, mesmo por parte das (dos) docentes: “Normalmente os professores, na sua maioria, são homens e brancos. Muitos deles acham que não existe racismo e que o racismo a gente vence de modo individual ou que o racismo é desculpa para não estudar. Quando é mulher acham que somos menos inteligentes”, relata a professora.

 

Para Gracinete Bastos a universidade precisa enfrentar as práticas racistas que já foram normalizadas com ações mais enfáticas para sensibilizar e conscientizar também as (os) docentes para as questões raciais. Este enfrentamento passa também por criar ambientes atrativos que levem em consideração as demandas de estudantes negras (os), como a oferta de laboratórios para uso de computadores num espaço adequado de estudos; melhorar as condições da biblioteca e o acesso ao Restaurante Universitário e considerar o lazer também como parte fundamental para garantir o bem-estar da população negra. Inclusive, para que as experiências de racismo vividas pela professora, como estudante e como profissional, na universidade sejam extintas.

 

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