PGR posiciona-se contra marco temporal para demarcação de terras indígenas no STF
06/09/2021
"O Brasil não foi descoberto, o Brasil não
tem 521 anos, não se pode invisibilizar os nossos ancestrais que nos legaram
esse país", afirmou o procurador-geral da República, Augusto Aras, na
quinta-feira (2), durante o julgamento do Recurso Extraordinário 1.017.365/SC
pelo Supremo Tribunal Federal (STF), que trata do "marco temporal", tese que
determina que os povos originários só teriam direito às terras ocupadas na data
da promulgação da Constituição, 5 de outubro de 1988.
O PGR posicionou-se pela manutenção da posse
dos indígenas na área, mesmo antes da conclusão da regularização da terra
indígena, e a favor da validade da demarcação, sem a aplicação de nenhum marco
temporal. Em uma contundente manifestação contra a tese do "marco temporal"
para a demarcação de terras indígenas, o procurador defendeu o artigo 231 da
Constituição Federal, que garante aos povos indígenas direitos originários
sobre as terras de ocupação tradicional.
Cerca de 1200 indígenas, de 70 povos,
acompanharam o terceiro dia de julgamento da sessão na Praça dos Três Poderes.
O julgamento que vai definir o futuro das demarcações de Terras Indígenas segue
no dia 8 de setembro, com o voto dos ministros do Supremo. Iniciado na última
quinta-feira (26) pelo Plenário do STF, o recurso extraordinário discute, de
forma concreta, um pedido de reintegração de posse movido pelo Instituto do
Meio Ambiente de Santa Catarina (IMA) em face do povo Xokleng. A área, ocupada
pelos indígenas, é sobreposta a um parque estadual e já foi identificada como
parte da Terra Indígena (TI) Ibirama Laklãnõ. O caso recebeu, em 2019, status
de "repercussão geral", o que significa que a decisão servirá de diretriz para
a gestão federal e todas as instâncias da Justiça no que diz respeito aos
procedimentos demarcatórios.
Mobilização indígena
Na última semana, mais de seis mil indígenas,
de 176 povos de todas as regiões do país, estiveram presentes em Brasília,
reunidos no acampamento "Luta pela Vida" para acompanhar o julgamento no STF e
lutar em defesa de seus direitos, protestando também contra a agenda anti-indígena
do governo Bolsonaro e do Congresso Nacional. Mesmo com a suspensão do
julgamento no dia 26 de agosto, os indígenas decidiram manter a mobilização em
Brasília e nos territórios. Cerca de 1,2 mil indígenas seguem na capital
federal acompanhando o julgamento e contarão com o reforço de mais de três mil
mulheres que já se deslocam pra a Brasília para a II Marcha das Mulheres
Indígenas, que começará nesta terça-feira (7) e irá até o dia 11 deste mês.
Fonte: ANDES-SN, com
edição.