A proposta do vereador Pedro Américo (Cidadania), que sugere transferir a Câmara Municipal para o prédio onde hoje funciona a Biblioteca Municipal de Feira de Santana, é equivocada e revela uma compreensão limitada sobre o papel da biblioteca pública na vida social e cultural da cidade.

A biblioteca não é apenas um depósito de livros. Ela é um equipamento público de educação e lazer, fundamental para a formação humana, sobretudo em um contexto de crescente desigualdade de acesso à cultura e ao conhecimento. Diferente do ambiente burocrático e restrito de uma Câmara de Vereadores, a biblioteca deve ser um espaço de convivência, de conexão entre pessoas, crianças, jovens, pessoas adultas e idosas; de construção de sentidos e de ampliação do horizonte cultural da população. Ela é um espaço de encontro entre gerações, de promoção da leitura, de eventos, clubes de leitura, exposições, cursos e oficinas que fazem da cultura um direito que deve ser compartilhado.

Justificar a transferência de um prédio para o outro sob o argumento de que “Hoje tudo é digital” é desconhecer o debate do efeito sobre o uso intensivo de telas e o desempenho de estudantes nas salas de aula. Países como a Suécia, por exemplo, desistiu da educação 100% digital. Estão, atualmente, investindo milhões de euros na "distribuição de livros didáticos impressos". Se as crianças tivessem um espaço público, rico em interatividade, atividades recreativas, podendo vivenciar no seu tempo disponível eventos que ampliassem seus repertórios da cultura corporal, ficariam em suas casas?

O Legislativo deveria propor um debate público sobre a qualificação dos espaços e equipamentos de lazer da cidade que tem mais de 600 mil habitantes. Decisões unilaterais sobre a vida da cidade chocam com o sentido da grande política. Em que o vereador se baseou para realizar essa proposição? Ao ocupar a tribuna da Casa do Povo, quem do povo foi consultado?

Nós, da Adufs, por meio do Grupo de Trabalho em Política Educacional (GTPE), queremos contribuir com o debate, afirmando que o caminho para fortalecer tanto a Câmara quanto a Biblioteca não passa por uma troca de sedes, mas por investimentos públicos que ampliem e qualifiquem ambos os espaços, respeitando suas identidades. Uma que representa a política e a outra que promove a socialização do saber sistematizado pela humanidade, contribuindo com a formação cultural e a emancipação da população de Feira de Santana.

Feira de Santana, 11 de novembro de 2025.