Reforma Administrativa com ataques piores que da PEC 32/20 avança na Câmara
10/10/2025
O grupo de trabalho da reforma
Administrativa, em funcionamento na Câmara dos Deputados, apresentou na
quinta-feira (2) seu relatório e, junto com ele, uma Proposta de Emenda à
Constituição (PEC), um Projeto de Lei Complementar (PLP) e um Projeto de Lei
(PL).
Sob a maquiagem de modernização dos
serviços públicos, transparência e fim de privilégios, o relatório traz uma
série de ataques, que são ainda piores que os contidos na PEC 32/2020 –
engavetada após intensa mobilização das categorias do funcionalismo público. As
propostas promovem mudanças estruturais, que retiram direitos das trabalhadoras
e dos trabalhadores dos serviços públicos municipais, estaduais e federal,
especialmente de quem ganha menores salários, e prejudicam sobremaneira a qualidade
dos serviços prestados à população.
“Não é uma reforma para quatro anos,
é uma reforma de Estado pensada para o presente e para as futuras gerações,
independentemente de quem esteja à frente do governo”, disse o deputado Pedro
Paulo (PSD-RJ), coordenador do GT da reforma, ao apresentar o relatório,
conforme divulgado pela Agência Câmara.
O relatório final do GT reúne os
argumentos favoráveis à aprovação de uma ampla reforma Administrativa,
desenhada incialmente em seis eixos temáticos, que foi pouco debatida com as
entidades representativas das categorias do serviço público. São mais de 400
páginas, que trazem 70 alterações, organizadas em três proposições
legislativas: uma PEC, um PLP e um PL.
De acordo com o Departamento
Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap), a PEC deverá ser inicialmente
apreciada pela Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJC), depois
deverá ser criada uma comissão especial e, posteriormente, será votada em dois
turnos no plenário da Câmara dos Deputados. Contudo, manobras regimentais
podem acelerar esse processo de tramitação, como a possibilidade de apensar à
proposta em fase avançada no plenário, a exemplo da PEC 32/2020, da reforma
administrativa encaminhada pelo governo Bolsonaro.
O PLP e o PL, por sua vez, podem ser
despachados para análise preliminar nas comissões permanentes ou,
alternativamente, ter sua tramitação abreviada por meio da apresentação de
requerimentos de urgência, que permitem o envio direto ao plenário.
Segundo o Diap, outro cenário possível, adotado com frequência na gestão do
presidente Hugo Motta, é a criação de comissões especiais para discutir cada
uma dessas matérias em uma única etapa antes da votação no plenário. Além
disso, todas as propostas devem ser analisadas pelo Senado Federal.
Teto de gastos e arrocho salarial
Entre os ataques contidos na proposta está a criação de um Teto de Gastos para
o serviço público, que limitará o quanto poderá ser investido pelos governos.
Mesmo com aumento da arrecadação, o teto impedirá a destinação de recursos para
reajustes salariais, criação de novas vagas ou preenchimento de vagas, caso
ultrapasse o montante determinado em lei.
Outra mudança é a criação de uma
tabela única remuneratória para todas as carreiras, que não será corrigida pela
inflação, mas sim por legislação específica. Além de congelar os salários,
achata as remunerações. Todas as carreiras também passarão a ter no mínimo 20
níveis e o salário inicial é limitado a 50% da remuneração final. A PEC ainda
proíbe o aumento de remuneração ou de parcelas indenizatórias com efeitos
retroativos, inclusive por meio de lei, e, ainda, a progressão ou promoção
exclusivamente por tempo de serviço. Além disso, extingue triênios, anuênios e
licenças-prêmios e limita o pagamento de adicional insalubridade e
periculosidade.
O estágio probatório passará a ser
baseado em uma análise de desempenho com critérios meritocráticos e
produtivistas, assim como as progressões nas carreiras serão também baseadas em
desempenho e cumprimento de metas. A proposta cria ainda a possibilidade de
contratação por tempo determinado de até 10 anos, fragilizando o vínculo de
contrato, gerando instabilidade e insegurança para os trabalhadores e as
trabalhadoras dos serviços públicos. Todas essas medidas impactarão sobremaneira
a qualidade dos serviços prestados à população.
Em avaliação preliminar da diretoria
do ANDES-SN, a proposta de reforma Administrativa em trâmite no Congresso
Nacional, desconstitui direitos históricos, como tempo de serviço,
licença-prêmio, progressões por tempo e outras licenças, e descaracteriza
condições especiais, como insalubridade e periculosidade, com impacto direto na
proteção social e na valorização da carreira.
O bônus por resultado converte parte
relevante da remuneração em parcela volátil e gerencial, sujeita a metas e a
ciclos orçamentários, sem resolver defasagens salariais estruturais. Além
disso, a avaliação de desempenho passará a ser usada como instrumento de
controle. “Ao vincular avaliação a progressão/promoção e abrir uso para perda
do cargo, a proposta fragiliza a autonomia técnica - no caso do magistério, por
exemplo, violando a liberdade de cátedra - e pode estimular práticas de assédio
por metas e punição por resultados alheios ao trabalho de servidoras e
servidores”, alerta o documento.
Entre as críticas, a diretoria também
aponta que a reforma promoverá o achatamento da remuneração. “A tabela única
desincentiva especificidades, com risco de fuga de talentos e perda de
atratividade das carreiras, produzindo achatamento e uniformização
remuneratória generalizada”, avalia.
Outro problema é a possibilidade de
terceirização, contratos por tempo determinado e a restrição de concursos.
Conforme análise da diretoria do Sindicato Nacional, a exigência de avaliar
“execução indireta” antes da reposição cria um viés pró terceirização crônico.
A centralização/autorização fazendária pode postergar reposições e
agravar a sobrecarga, precarizando serviços essenciais como saúde, educação,
seguridade social, entre outros.