Adufs realiza mesa para discutir "Necropolítica e o bem-viver da população negra" no Novembro Negro da UEFS

28/11/2024

Nesta quarta-feira, 27 de novembro, a Adufs realizou a mesa “Necropolítica e o bem-viver da população negra” como parte do Novembro Negro da Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS) com a presença de Fátima Lima, docente da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UEFS) e Andreia Beatriz dos Santos, docente da Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS). A mediação foi feita pelo também professor da UEFS e integrante do Grupo de Trabalho de Políticas de Classe para Questões Étnicorraciais e Diversidade Sexual (GTPCEGDS), , Gean Santana.


A discussão girou em torno de dois elementos centrais para pensar o cenário nacional, a raça e o racismo. A professora Fátima Lima que é antropóloga, feminista alinhada ao Feminismo Negro, decolonial e anti-colonial, doutora em Saúde Coletiva, fez uma ampla abordagem sobre a necessidade de aprofundar o debate contra a desigualdade e todo o tipo de exploração para que o antirracismo vá além do discurso. “Antirracismo é mais do que se dizer antirracista. Antirracismo exige antes de tudo uma mudança nas relações de poder”


A docente falou sobre as complexidades de fazer o debate da necropolítica na presença de negros, como tem ocorrido em suas disciplinas e cursos, porque o conceito se materializa na vida destas pessoas estão sob risco de morte iminente. A partir da definição construída pelo pesquisador Achille Mbembe, ela destacou a importância de resgatar o conceito de necropolítica que versa sobre o poder de ditar quem pode viver e quem deve morrer numa sociedade que se baseia em hierarquias raciais. O biopoder e suas tecnologias são responsáveis por determinar quem tem direito à vida para muito além da existência de um corpo físico. Vida esta que não é aceitável para todos os corpos, já que existem os que são matáveis, inclusive, com o aparato do Estado.


Fátima Lima enfatizou ainda a contribuição das mulheres na discussão racial, citando o nome de Lélia Gonzalez, Luiza Bairros e Beatriz Nascimento como responsáveis pelo que chamou de radicalidade do pensamento negro brasileiro.


A professora Andreia Beatriz, que é médica da Secretaria de Saúde do Estado da Bahia (SESAB, doutoranda em Saúde Pública pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) e militante fundadora do Reaja ou Será Morto/ Reaja ou Será Morta, lembrou de situações como a que ocorreu no bairro Cabula, em Salvador, no ano de 2015 para refletir sobre a necropolítica e o bem-viver. Na situação então governador do Estado no momento, Rui Costa, ao falar sobre o genocídio de homens negros realizado pela polícia baiana comparou seus policiais, com suas armas engatilhadas e apontadas para 13 homens negros já rendidos, como revelaram as testemunhas posteriormente, com jogadores de futebol frios na “cara” do gol. Para a docente, o depoimento revela o aparato genocida do Estado a serviço da necropolítica.


O bem-viver foi abordado pela docente que resgatou a origem da expressão que é indígena, e tem relação com a terra, é uma cosmovisão, uma percepção de existência integrada com a natureza, que muitas vezes é compreendida de forma superficial. O bem-viver diz respeito à alcançar uma qualidade de vida, uma possibilidade de existir. Se torna uma perspectiva cada vez mais difícil de ser atingida diante de fatores como o ódio anti-negro, a negação da humanidade para pessoas negras que faz com que cada pessoa não-negra individualmente se sinta autorizada a retirar condições de vida, da existência de negros enquanto humanos com anuência do Estado. Pessoas que se apropriam da humanidade como modelo e permitem que outras tenham suas vidas interrompidas.


O vídeo com a íntegra da Mesa “Necropolítica e o bem-viver da população negra” está disponível no YouTube da Adufs.


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