Diretoria da Adufs publica Nota de Repúdio contra declarações do governador Jerônimo Rodrigues sobre ‘aprovação em massa’ na Educação Básica
21/02/2024
A Adufs vem a público
repudiar discurso do governador professor Jerônimo Rodrigues (PT) proferido
durante ato público em Feira de Santana, nesta segunda-feira, 19 de fevereiro
de 2024, ao transferir a responsabilidade acerca do índice de reprovação na
Educação Básica para professoras e professores, alicerçando sua inusitada fala
na Portaria 190/2024, publicada em 27 de janeiro e que dispõe sobre avaliação
de discentes na Educação Básica (Confira aqui). Para começar, a política
estudantil implementada nos últimos anos no Estado da Bahia é de
responsabilidade do atual governador que ocupou o cargo de secretário da
Educação nos últimos quatro anos (2019-2022), durante a gestão do seu
antecessor Rui Costa; logo, os números também refletem o trabalho realizado
pela sua pasta.
Numa evidente tentativa
de tornar as professoras e os professores bodes expiatórios da política
educacional desastrosa, o governador ataca a categoria e se exime das
responsabilidades da Secretaria e, portanto, fez cortina de fumaça para desviar
o foco em relação à falta de investimento, a destruição da carreira e a
indiferença quanto às reais condições de vida e estudo das crianças, jovens e
adultos. A APLB-Sindicato dos Trabalhadores em Educação do Estado da Bahia
denunciou publicamente a tentativa de aprovação em massa de estudantes.
Se por um lado, o
governador retira a total autonomia da escola, professoras e professores sobre
os processos pedagógicos, por outro, de forma leviana, constrói uma narrativa
que desconsidera todos os fatores envolvidos nos índices de aprovação ao omitir
dados como as péssimas condições estruturais das escolas públicas de Educação
Básica; a precarização das condições trabalhistas de docentes que atuam com
salários defasados; terceirização de profissionais; contratações temporárias
que garantem a manutenção dos “currais eleitorais”; os índices de evasão; as
violências no ambiente escolar; a escassez de docentes qualificados para as
pastas por falta de concursos, entre outros.
Atrelar índices de
aprovação à garantia de qualidade da educação implementada se traduz em falso
progressismo que beneficia apenas os interesses daqueles que vivem de números
para campanhas midiáticas, o que vem se tornando especialidade dos governos
baianos que investem milhões em propaganda para impressionar a população em vez
de promover resultados efetivos para a educação e os demais setores. Não por
acaso, o governador Jerônimo segue a cartilha de Rui Costa no jogo de empurra
que tende a colocar docentes como vilãs e vilões, no lugar de investir em políticas
educacionais do Estado que favoreceriam não apenas profissionais de educação,
mas, principalmente, estudantes e toda a população baiana.
O discurso do professor
Jerônimo Rodrigues não é apenas equivocado; é representativo daquilo que o
mesmo entende como prática política: distorcer os fatos para se beneficiar com
a desinformação a qualquer custo. Qualquer semelhança com a política
implementada pela direita não é mera coincidência para um gestor que se nega a
dialogar com docentes para entender minimamente a situação em curso na Educação
Básica e Superior.
Na Bahia, terra de
tantos nomes que lutaram em defesa da educação pública, como mencionou Jerônimo
Rodrigues em seu discurso vexatório, o que não cabe é um governador que
confunde autoritarismo com resultado de políticas públicas. Mascarar os índices
de reprovação, com aprovação em massa, beneficia somente os números que
interessam ao governador e ao conjunto de gestoras (es) que, assim como ele,
deveriam se envergonhar de carregar o nome de educadoras (es).
Afinal, a autonomia
necessária para desenvolver um processo educacional público de qualidade
socialmente referenciada, amplamente discutida pelo patrono da educação
brasileira, Paulo Freire, não se faz de discursos vazios e transferências de
responsabilidades. Somente por meio de práticas emancipatórias será possível
alcançar um quadro educacional que corresponda aos anseios da população. Nesse
sentido, a valorização de professoras e professores, bem como o respeito às
suas competências, também devem ser encarados como ações basilares, ao
contrário do que ocorre no cenário baiano.
Feira de
Santana, 21 de fevereiro de 2024.