Adufs participa de ato por Justiça para Mãe Bernadete e Binho do Quilombo, em Feira de Santana

30/08/2023

Nesta terça-feira (29), a Adufs participou do ato público organizado pelos movimentos negros de Feira de Santana para pedir justiça pelas mortes de Mãe Bernadete e Binho do Quilombo. A manifestação começou em frente à Câmara de Vereadores, continuou durante a sessão e foi encerrada com uma caminhada até o Fórum Desembargador Filinto Bastos.

Desde o dia 16 de agosto, quando Mãe Bernadete Pacífico foi assassinada na sala de sua casa que fica no Quilombo Pitanga dos Palmares, local que é alvo de disputa de terras e ainda está em processo de demarcação. A morte da Ialorixá, importante liderança quilombola, reacende as discussões em torno das mortes de representantes de povos originários que vem sendo assassinadas (os) no Brasil. Na última década, somente na Bahia morreram 11 quilombolas, o estado lidera o ranking de mortes.

Para avançar na discussão sobre estes números, é preciso refletir, principalmente, sobre como os povos originários, entre eles as (os) quilombolas, têm sido vítimas da invasão de terras com consentimento do Estado que avança a passos curtos no reconhecimento e demarcação destas áreas, em nome de interesses que beneficiam, em grande medida, latifundiários e donos de imóveis que ocupam ilegalmente as terras.

A declaração irresponsável do governador do Estado, Jerônimo Rodrigues, de que a principal linha de investigação da morte de Mãe Bernadete seria a disputa de facções mostra como a disputa de terras e as mortes de quilombolas e lideranças religiosas são negligenciadas. Mãe Bernadete vinha denunciado as ameaças que sofria por conta do território do quilombo Pitanga dos Palmares; era uma destacada liderança das comunidades quilombolas; estava sob medida protetiva e o seu filho, Binho do Quilombo, foi assassinado nas mesmas condições há 6 anos atrás, ainda assim, a despeito de todo esse histórico, o governador entendeu como legítimo considerar a disputa de facções como linha de investigação para o crime.

Segundo os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), das 3 583 comunidades quilombolas autodeclaradas no Brasil, apenas 147 são tituladas. Em curso no Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) estão 1802 processos de demarcação. Pela primeira vez, o Censo contabilizou a população quilombola do país e chegou ao número de 1,32 milhão de pessoas. O estado com o maior quantitativo é a Bahia com 397.059 quilombolas.

Em diversas falas durante o ato público, em Feira de Santana, foi destacada a importância de fortalecer a luta pela demarcação de terras quilombolas, já que, este tem sido o principal fator para perseguições e mortes nas comunidades. As (os) manifestantes cobraram agilidade na apuração das mortes de Mãe Bernadete e Binho do Quilombo e reforçaram o pedido por apoio às (aos) representantes do legislativo para que as pautas referentes aos povos originários não sejam negligenciadas.

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