Nota de Repúdio contra o assassinato brutal da líder quilombola, Ialorixá Bernadete Pacífico

18/08/2023

A Associação das e dos Docentes da UEFS (Adufs) vem a público manifestar seu total repúdio contra mais uma ato de violência política, racial, de gênero e religiosa ocorrido no Estado da Bahia. Na noite desta quinta-feira, 17 de agosto de 2023, Bernadete Pacífico, que era Ialorixá, mulher negra, coordenadora da Coordenação Nacional de Articulação de Quilombos (Conaq) e líder do quilombo Pitanga dos Palmares, foi brutalmente assassinada no terreiro da sua comunidade, em Simões Filho. Valorosa companheira de luta nos movimentos negros, de mulheres negras e em defesa dos quilombos, Ialorixá Bernadete Pacífico vinha denunciando ameaças constantes aos quilombos e suas lideranças.

A escalada de morte de lideranças políticas, em sua maioria negras e negros, coloca o Brasil como um dos países mais violentos do mundo. Somente este ano, entre janeiro e junho, 40 lideranças políticas foram mortas acompanhadas de 14 familiares. A Bahia lidera o ranking dos estados, com 5 mortes neste período. A morte da Ialorixá Bernadete Pacífico, agora, se soma a esta estatística perversa, já que, sua morte sucede também ao assassinato de seu filho, Binho do Quilombo, no ano de 2017, que ainda segue sem resolução.

A execução sumária de uma líder religiosa, negra, quilombola, na sala da sua própria casa escancara, mais uma vez, a face perversa do projeto em curso de genocídio da população negra que vem sendo denunciado cotidianamente pelos movimentos negros, mas ignorado pelos governantes que ainda colaboram com este quadro ao colocar a Segurança Pública do Estado a serviço do extermínio de mais negras e negros. Vide a atuação da polícia baiana que é a mais letal do Brasil, segundo dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública de 2023.

Um conjunto de violências combinadas pode ser extraído deste episódio brutal que também envolve conflitos agrários. A violência política, contra uma liderança que já ocupou o cargo de secretária de Políticas de Promoção da Igualdade Racial na cidade de Simões Filho; a violência de gênero e racial, contra uma líder de quilombo; e a violência religiosa contra uma Ialorixá. A constatação assustadora de que o Brasil é um país hostil para negras e negros é reforçada e nos convida para uma reflexão mais ampla de que a mobilização da classe trabalhadora é imediata e urgente.

Se com racismo não há democracia, tampouco ela existirá mediante o extermínio dos corpos que se colocam no fronte da defesa inegociável das liberdades democráticas por meio das pautas identitárias que dão sentido à sua existência e da sua ancestralidade. A morte de Bernadete Pacífico é mais um capítulo nefasto de negação do direito às liberdades democráticas, que jamais existirão para alguns grupos caso não haja a ampliação das lutas e das frentes de resistência.

Nesta hora, não é possível mais admitir a reivindicação apenas de movimentos negros, quilombolas e de outros grupos identitários para resistir contra estas barbáries. Precisamos avançar para o entendimento de que estas violências brutais atingem desmedidamente a classe trabalhadora e somente com a mobilização dela, na sua totalidade, é que poderemos almejar dias em que a vida seja um direito garantido e inegociável, e não uma concessão do Estado com prazo determinado.

A Adufs se solidariza com as (os) familiares, filhas (os) espirituais, amigas (os) e companheiras (os) de luta da Ialorixá Bernadete Pacífico; cobra que a apuração dos fatos seja célere e rigorosa, além de se colocar mais uma vez à disposição para fortalecer o enfrentamento em defesa das liberdades democráticas, da vida e do bem-viver da população negra.

Ialorixá Bernadete Pacífico Presente, Hoje e Sempre!


Feira de Santana, 18 de agosto de 2023.

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