Alta letalidade das polícias é uma marca dos governos baianos que se repete com Jerônimo Rodrigues
03/08/2023
Nos últimos dias foram registradas
19 mortes em decorrência de ação policial no Estado da Bahia. Com a
justificativa de confronto entre policiais e suspeitos, somente as cidades de
Salvador, Itatim e Camaçari acumularam estes números em três dias. Numa única
ação, sete suspeitos foram mortos em Camaçari. Segundo os dados do Fórum Brasileiro de
Segurança Pública, divulgados no Anuário Brasileiro de Segurança Pública deste
ano, pela primeira vez desde 2015, a Bahia superou o Rio de Janeiro como o
estado com maior número de pessoas mortas em ações policiais. O que fortalece a
tese que há muito vem sendo apresentada pelos movimentos negros de que a
polícia baiana é a que mais mata no Brasil. O Anuário mostrou ainda que das 20
cidades mais violentas do país, 11 são baianas.
Dois importantes aspectos
complementares precisam ser discutidos quando falamos de Segurança Pública na
Bahia: racismo e papel do estado. O primeiro é um fato histórico que diz
respeito a estrutura racista que domina as instituições e por consequência
também as corporações. As balas disparadas pelos agentes de segurança atingem
em maioria significativa os corpos negros, sobretudo, de jovens negros. Também, segundo dados do Anuário, negros
representam mais de 80% das pessoas mortas por policiais. Neste ponto, é
preciso ampliar a lupa da criticidade para fugir do discurso fácil comumente
declarado por órgãos autorizados e lideranças governamentais que tentam
justificar esta estatística ao avanço da criminalidade nos setores sociais de
maior vulnerabilidade onde a maioria das pessoas são negras. Esta narrativa
serve aos interesses somente daquelas (es) que veem na ação homicida uma
solução viável para combater a escalada de violência que atinge toda a
sociedade.
Na contramão dos que defendem que
a morte alcança somente “as (os) envolvidas (os),” acompanhamos também cotidianamente
as tentativas silenciadas de familiares, amigas (os) e vizinhas (os) de vítimas
que diante da revolta pela perda denunciam ações truculentas que envolvem
destruição de casas, invasão e violência desmedida de agentes de segurança
contra moradoras (es) das comunidades e zonas periféricas. Muitas destas ações
culminam em mortes que entram na estatística dos “confrontos entre policiais e
suspeitas (os)”.
Papel do Governo do Estado
Acompanhamos sem surpresa o papel
que o Governo do Estado desempenha diante dos dados mórbidos divulgados
cotidianamente. Seguindo o caminho de seu antecessor e padrinho político, Rui
Costa (PT), o governador Jerônimo Rodrigues utilizou-se do espaço público e de
seu secretariado para contestar os dados do Anuário informando números
paralelos que desconstroem a posição letal que a Bahia ocupa no cenário
nacional. Para o governador Jerônimo, os dados da Bahia “não são ruins” e
existe “má fé” na crítica feita à segurança pública do estado.
Há que se considerar também o
processo de adoecimento dos próprios policiais que são submetidos, cada vez
mais, a situações de extrema violência sem treinamento e equipamentos
adequados, remuneração desproporcional aos níveis de riscos a que são submetidos
cotidianamente, além de atuar com efetivo insuficiente para a demanda. O
adoecimento das corporações é evidente: de acordo com o Anuário Brasileiro de Segurança
Pública 2022, o número de suicídio entre policiais civis e militares no Brasil
cresceu 55% entre 2020 e 2021. A violência que começa nos treinamentos se
encerra nas ruas.
Ao ignorar números reais bem como
as denúncias constantes de truculências que resultam em mortes e/ou abordagens
violentas por parte dos agentes de segurança do Estado e a situação crítica das
(os) trabalhadoras (es) da segurança; o governador corrobora com o discurso de
Rui Costa que em diversas ocasiões defendeu policiais em combate chegando a
compará-los com “artilheiros diante do gol” durante uma situação de confronto.
Enquanto a prioridade da segurança pública for o extermínio como solução para
corrigir índices de violência, seguiremos com a mesma programação em que os
agentes das polícias continuam a ter autorização para matar com anuência do
Estado.