Julho das Pretas centraliza ações de movimentos de mulheres negras por reparação e bem-viver
25/07/2023
O
mês de julho é considerado um importante espaço de incidência política para os
movimentos de mulheres negras que organizam uma série de ações para ampliar a
visibilidade das pautas relativas às mulheres negras. A centralização de
debates das pautas feministas negras neste mês carrega forte simbolismo também
em decorrência do dia 25 de julho, Dia Internacional da Mulher Negra
Latino-Americana e Caribenha e do Dia Nacional de Tereza Benguela.
O
Dia Internacional foi demarcado a partir de um encontro de centenas mulheres
negras contra o preconceito racial, em 1992, na República Dominicana. Já o Dia
Nacional é incorporado ao calendário devido ao reconhecimento de Tereza de
Benguela como importante liderança na luta contra a escravidão. À frente do
Quilombo Quaiterê, no Mato Grosso, por cerca de 20 anos, a quilombola resistiu às
investidas dos bandeirantes contra o seu povo e
administrou as atividades econômicas e políticas até a destruição do quilombo
por volta de 1770. O Dia de Tereza de Benguela foi oficializado em 2014 pela
presidenta Dilma Rousseff.
São muitos os nomes de mulheres negras
que podemos destacar como referências de luta, desde as bravas guerreiras que
lutaram ainda pela independência do povo negro no período colonial como as
baianas Maria Felipa, Luíza Mahin, passando pelas intelectuais Maria Fermina
dos Reis, Lélia Gonzalez, Carolina
Maria de Jesus,
Beatriz Nascimento, Sueli Carneiro, Conceição
Evaristo, Jurema Werneck, Cida Bento e tantas outras que ainda colaboram na
luta em defesa do bem-viver num país que segue sendo perverso para mulheres
negras, sejam elas cisgênero ou transgênero.
As desigualdades de gênero e raça no Brasil ainda
destinam um lugar hostil para mulheres negras que tem menores salários, menos
acesso ao mercado de trabalho, são mais vítimas da insegurança alimentar, do
feminicídio, de estupros e demais violência. Acompanhamos mudanças importantes
no campo das políticas públicas com aprovação de legislação de equiparação
social; ampliação do quadro de vagas e políticas afirmativas para acesso aos
concursos públicos e às bolsas de produtividade; mas estas mudanças só terão
impactos significativos no quadro social quando vierem acompanhadas de uma
mudança efetiva na forma como as instituições enfrentam o racismo e o machismo.
A reivindicação de reparação e bem-viver das
mulheres negras que há muito vem sendo enfatizado pelos movimentos de mulheres
diz respeito a esta compreensão mais ampla num quadro político que engloba as
demandas deste grupo de forma individual e coletiva, considerando a
participação integral destas mulheres nos espaços de poder e decisão. Por isso,
a ampliação de representatividade é fundamental. O Bem-Viver, nesse sentido,
agrega concepções ancestrais e culturais que valorizam os saberes históricos
das populações negras na construção de uma economia do cuidado que vai além da
legislação. É uma nova forma de pensar a sociedade que retira o machismo e o
racismo da centralidade das instituições para conceber um novo modelo em que a
participação das minorias sejam o mote para o desenvolvimento de políticas
públicas.
A continuidade da lógica desigual de distribuição
de capital e exploração da classe trabalhadora, na compreensão destes
movimentos, acabam por reproduzir uma lógica de opressão e subordinação que não
pode ser revertida, se não a partir de um novo modelo de desenvolvimento humano
que leve em consideração outras bases do saber e coexistir em sociedade.