Copa do Mundo Feminina escancara realidade desigual para mulheres no futebol
20/07/2023
Começou nesta
quinta-feira, 20 de julho, a Copa do Mundo Feminina 2023 que, pela primeira
vez, será sediada por dois países. Austrália e Nova Zelândia serão os
anfitriões da maior competição de futebol que reunirá 32 seleções. O início da
competição reacende as discussões em torno das desigualdades de gênero no
futebol. Apesar do incentivo aos eventos esportivos femininos, a discrepância
entre o universo masculino e feminino no futebol ainda é impressionante.
A questão salarial é
muito representativa da desigualdade de gênero na modalidade. A jogadora Marta,
principal atleta da seleção feminina e eleita por seis vezes a melhor jogadora
do mundo, recebe 125 vezes menos do que o salário de Neymar, que tem um dos
maiores salários entre jogadores brasileiros, mas nunca foi considerado o
melhor do mundo. Segundo o jornal Valor Econômico, em 2022, Marta recebia $400
mil dólares (R$ 1,9 milhão) por ano. Já o atacante brasileiro ganhava $50
milhões de dólares (R$ 245,9 milhões) por temporada. Essa situação se repete
entre as jogadoras profissionais, muitas delas sequer conseguem sobreviver da
profissão. Segundo dados da Organização das Nações Unidas (ONU), em 2019,
Lionel Messi, recebeu um salário maior do que
o das 1.693 jogadoras das 7 principais ligas femininas juntas.
Uma justificativa
utilizada para os salários das jogadoras é a baixa audiência dos jogos
femininos. No entanto, a utilização deste argumento desconsidera o fato de que a
mídia televisiva, principal veículo de disseminação do esporte, não faz ampla
cobertura dos jogos. A transmissão em TV aberta da Copa do Mundo só passou a
ocorrer em 2019, apesar disso, o tempo destinado aos jogos e às discussões
posteriores são significativamente menores. Com pouca visibilidade e menor reconhecimento,
as atletas não conseguem ampliar suas rendas por meio de patrocínios e
propagandas, como ocorre comumente entre os homens.
A diferença está no
tratamento dado pela própria Federação Internacional de Futebol (FIFA) que na
Copa do Mundo da Rússia, em 2018, ofereceu para os homens cerca de $ 400
milhões de dólares em premiação, já na Copa do Mundo Feminina da França, em
2019, somente 30 milhões foram pagos às mulheres. Apesar disso, neste ano, a
Federação já mostra uma tendência significativa de mudança no tratamento: a
premiação na Copa 2023 chegará a $150 milhões. Outra importante reivindicação
das jogadoras que foi acatada pela Fifa diz respeito ao pagamento de salários
durante a Copa do Mundo. Neste ano, as atletas receberão exatamente o mesmo
valor em diárias pagas aos homens durante o campeonato mundial.
No cenário nacional as
mudanças também vêm ocorrendo, embora ainda em passos lentos. Desde 2019, por
determinação da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), todos os clubes que
disputam a Série A são obrigados a ter equipes femininas. Segundo
informações da própria CBF, a ideia é que até 2027, esta obrigatoriedade valha
também para os clubes da série B, C e D. Esta é uma medida importante, mas que
precisa ser acompanhada com rigor levando em consideração também os incentivos
feitos para estes times. Durante a pandemia, diversas atletas femininas
denunciaram questões trabalhistas nos clubes que não garantiam condições de
trabalho e suporte equiparados com os atletas masculinos. Além disso, falta
incentivo para meninas iniciarem no esporte.
Com a Copa do Mundo
Feminina 2023 está aberta a possibilidade de trazer à tona a discussão que
precisa vir acompanhada de medidas efetivas para equiparação de tratamento
entre profissionais do esporte.
Alteração de expediente na Adufs
Na luta contra as desigualdades de gênero também no futebol, a Adufs
assume o compromisso de somar-se na luta equiparando o tratamento destinado às
mulheres e aos homens durante a participação na Copa do Mundo de futebol. Por
isso, assim como ocorreu durante a Copa do Mundo masculina, o expediente da
Adufs nos dias de jogos da seleção feminina também será alterado.
Nos dias 24 de julho e
02 de agosto, o expediente será iniciado às 10 horas e às 09 horas,
respectivamente Para além de uma medida simbólica, a ação soma-se às práticas
efetivas na luta por equidade entre os gêneros que vem sendo realizadas pelo
sindicato em suas mais diversas instâncias acompanhando o Sindicato Nacional no
entendimento de que qualquer ação de machismo, misoginia ou de desigualdade
entre os gêneros não pode ser admitida.