"A qualidade dos serviços ofertados pelo Planserv está cada vez mais comprometida", afirma professor Cleiton Silva
08/05/2023
Junto ao Projeto de Lei (PL) que concede o reajuste linear às
professoras e professores das Universidades Estaduais da Bahia, no último dia
04 de maio, chamou atenção também o envio do PL 24.874
que altera a tabela de contribuição das servidoras e servidores públicos em até 8% no Sistema de Assistência à Saúde dos Servidores Públicos Estaduais (Planserv).
Apesar do incremento na Receita Corrente Líquida (RCL)
do Estado, que em 2022 alcançou o nível de R$ 55,35 bilhões (21,8% a mais do
que a RCL de 2021), o governador
Jerônimo Rodrigues justificou a necessidade de aumento na contribuição para o que chamou de readequação do custeio, necessidade de garantir a sustentabilidade do plano a
longo prazo, absorção do custo de novas tecnologias demandadas pela saúde e
aprimoramento das regras regulatórias da assistência. Em resumo, a despeito do
comportamento excepcional da arrecadação de impostos nos últimos anos, o governador concedeu um aumento insuficiente para compensar as
perdas acumuladas pela categoria que já ultrapassam 53% e ainda quer colocar na
conta de servidoras e servidores os custos para a manutenção da assistência de
saúde que já é precária.
O que Jerônimo Rodrigues coloca em termos técnicos para
justificar o aumento da contribuição na prática representa mais prejuízos para
servidoras (es) já que qualidade dos serviços do Planserv vem piorando ao longo
dos anos enquanto a contribuição só aumenta.
Com escassez de profissionais especializados, longa
espera para marcação de consultas e dificuldades de agendamentos para
tratamentos de maior complexidade, as queixas se acumulam sobre o acesso aos
serviços. Em artigo publicado, o professor da Universidade Estadual de Feira de
Santana (UEFS), Cleiton Silva de Jesus, faz uma análise de como os últimos 10
anos foram marcados pela deterioração na qualidade dos serviços prestados
também por conta de alteração no repasse de valores para as clínicas e as (os)
profissionais de medicina.
Com base no artigo Demografia
Médica no Brasil, coordenado pelo professor Mário Scheffer, da Universidade
de São Paulo (USP), que mostra como o rendimento médio mensal dos médicos declarantes
de Imposto de Renda na Bahia era o menor do Brasil no ano de 2020, o professor
Cleiton Silva de Jesus reflete sobre o que justificaria o fato de que uma (um) médica (o) na Bahia recebe o equivalente a 13% menos do que em outros
estados do Nordeste. O professor
reconhece que este é um problema multifatorial, mas destaca o possível impacto
do que ele denomina efeito-Planserv, definido como a relação entre a
remuneração de médicos (as) e demais profissionais de saúde com a gestão do
Planserv e a qualidade dos serviços.
“Há exatos 10 anos, no início de 2013, o Planserv
repassava para as clínicas parceiras R$ 45,00 por consulta médica. Assumindo
que o valor repassado pela consulta deve ser dividido entre clínicas e médicos
em partes iguais, como geralmente é o caso, o repasse bruto por consulta (antes
do pagamento de impostos/contribuições) para os profissionais médicos girava em
torno de R$ 22,50. Uma pergunta interessante que pode ser feita é quantas
consultas de beneficiários do Planserv eram necessárias para um profissional
médico obter um salário mínimo, que na época era R$ 678. Eram necessárias 30
consultas, todas com direito à retorno gratuito em até 30 dias. Hoje, em 2023,
com salário mínimo de R$ 1.320 e com repasse de R$ 65,00 por consulta de beneficiários
do Planserv, são necessárias 41 consultas para se obter um salário mínimo”
explica.
Além da evidente redução na qualidade dos serviços,
diante do aumento do número de consultas para se conseguir uma remuneração
mínima adequada, o efeito da precarização na carreira é também de fuga de
profissionais com maior qualificação e experiência. “Perdem os beneficiários, que
estão com seus salários/benefícios corroídos pela inflação e ainda têm
enfrentado inúmeras dificuldades para realizar consultas/exames/procedimentos,
e perdem também os profissionais médicos, que precisam realizar muito mais
consultas do que realizavam há dez anos somente para manter a remuneração
relativa constante”, complementa o professor Cleiton Silva de Jesus.
Para retornar ao nível de consultas, em termos de
quantidade, como ocorria em 2013, seria necessário, de acordo com as
informações do professor, um aumento de repasse dos R$ 65 reais atuais para R$
88, ou seja, um aumento de 35%. No artigo, é destacado ainda como o efeito-Planserv afeta a qualidade dos
serviços para beneficiários (as), mas também a saúde das (os) profissionais da
saúde diante do acúmulo de demandas e precariedade na estrutura.
Quando somamos as informações anteriores ao fato de que
mais um aumento pode ser aprovado na ALBA, fica evidente que mais prejuízos
serão acumulados pelas (os) servidoras (es) que são as (os) principais
penalizadas (os) com uma oferta de serviços incapaz de suprir a demanda do
Estado, apesar dos altos custos impostos para sua manutenção.
Leia na íntegra o artigo publicado pelo professor Cleiton Silva de Jesus.