Coletivo de Docentes Negros, Negras e Negres apresenta-se oficialmente à comunidade acadêmica
03/04/2023
Apesar de jovem, o Coletivo de Docentes
Negros, Negras e Negres da Uefs já nasceu bastante maduro. Somente oito meses
após ocorridas as primeiras reuniões entre professoras e professores para
discutir as situações de racismo dentro e fora do ambiente acadêmico, o grupo
organizou uma cerimônia, na última quinta-feira (30/03), para marcar o
lançamento deste. Nesta data (30/03), o Coletivo se apresentou oficialmente
às/aos professoras/professores, demais trabalhadoras/trabalhadores e discentes
da universidade, firmando-se enquanto grupo político de enfrentamento
irrestrito às violências, explorações e exclusões pelas quais a população negra
é cotidianamente submetida. Elson Moura, diretor da Adufs, esteve presente à
atividade, que foi carregada de emoção.
Em suas falas, algumas/alguns dos integrantes
do Coletivo destacaram que existe uma grande batalha contra o racismo nos
diversos espaços e instâncias do ambiente acadêmico, que se configura como um local
conservador e tradicional, onde se encontram currículos eurocêntricos em todas
as áreas. As instituições de ensino superior, assim como acontece na Uefs,
ainda conforme membros do grupo, abrigam pessoas majoritariamente brancas, e o
negro tem seus conhecimentos constantemente testados e, em muitas situações,
silenciados. Também segundo as/os docentes, o acesso ao ensino superior não
significa o rompimento dos estereótipos em relação à população negra, mas o
confronto. As políticas afirmativas, inclusive na Uefs, seguindo a reflexão de
alguns dos que se manifestaram, trouxe melhorias, porém, ainda reproduzem
situações de violência e o adoecimento das pessoas negras. A ausência de uma pesquisa
revelando o quantitativo de docentes negras, negros e negres na universidade,
bem como a inexistência de dados sobre os casos de racismo, já são manifestações
de preconceito contra esta população.
De acordo com a explicação de Ivy Guedes, integrante
do Coletivo de Docentes Negros, Negras e Negres da Uefs, a ideia de
constituição do grupo iniciou-se por conta “da flagrante ausência de
distribuição e aplicação das cotas raciais no edital de concurso público de 2022
para acesso destas/destes servidores à instituição. Depois das primeiras
reuniões, outras demandas foram identificadas e, com elas, a necessidade de
constituir um grupo organizado para discutir tais pautas. Tornou-se uma questão
saber quem somos e onde estamos dentro da Uefs”. Além das falas de alguns
membros do Coletivo, manifestaram-se representantes da Adufs, do Diretório
Central dos Estudantes (DCE) e da Administração Central da Uefs.
Em sua fala, Elson Moura informou sobre as
ações desenvolvidas pela diretoria e no âmbito do Grupo de Trabalho Políticas
de Classe para as Questões Etnicorraciais, de Gênero e Diversidade Sexual
(GTPCEGDS) da Adufs no combate ao preconceito racial e à desigualdade de gênero.
Também declarou o apoio da Associação ao Coletivo e disponibilizou a Adufs para
a organização da luta, reafirmando que não existe democracia, se não houver debate
antirracista. Ao final, bastante emocionado, resgatou uma declaração marcante
da intelectual e militante antirracista e feminista Angela Davis, dizendo: “Numa
sociedade racista, não basta não ser racista. É necessário ser antirracista”.
Reivindicações
Durante a cerimônia de lançamento do Coletivo
de Docentes Negros, Negras e Negres da Uefs foi apresentado o Manifesto do
grupo contendo um conjunto das reivindicações e um relato com o seu objetivo.
Entre as pautas a serem encampadas pelo grupo estão a mobilização por um espaço
físico para as ações do Coletivo; produzir e compartilhar periodicamente
materiais sobre a produção em raça, racismo e relações étnico-raciais no Brasil
e no mundo; criar um banco de dados com TCCs, dissertações e teses com a
temática racial; além de propor uma agenda de formação interna e externa na
Uefs, através de projetos de pesquisa e de extensão que ampliem o debate acerca
das relações étnico-raciais.
O Manifesto lançado pelo Coletivo de Docentes
Negros, Negras e Negres da Uefs também traz reivindicações à Administração
Central e instâncias deliberativas da Uefs e, ainda, às diretorias do ANDES-SN
e da Adufs. Para os gestores da universidade, o grupo solicita que o Novembro
Negro seja transformado em um Congresso da Uefs, incluído no calendário
universitário como uma atividade que envolva todas as Pró-reitorias, Colegiados
e a comunidade Universitária; promoção e articulação de espaços de acolhimento,
escuta e de cuidado para docentes, estudantes e técnicos; criação do
Observatório Étnico-racial da instituição; mapeamento de docentes negras,
negros e negres; criação de componentes curriculares obrigatórios que abordem
as relações étnico-raciais, nas diversas áreas; paridade racial e de gêneros
nos cargos e nas comissões da universidade; política editorial institucional
com o incremento de publicações de autoria negra; estruturação de uma
Pró-reitoria específica de Ações Afirmativas.
Entre as pautas relacionadas no Manifesto
para as diretorias do ANDES-SN e da Adufs estão: paridade racial e de gênero na
composição das diretorias; mais o fomento à participação de docentes
LGBTQIAPNA+ em suas atividades e instâncias deliberativas.