Nos 20 anos do Estatuto do Magistério Superior, professores (as) rememoram lutas e debatem desafios atuais
08/09/2022
A importância histórica do Estatuto do Magistério Superior (Lei nº 8352/02) foi tema
de discussão, na última sexta-feira (2), entre docentes da Uneb, Uesb, Uefs e
Uesc. O debate foi promovido pelo Fórum das ADs, em formato remoto, e reuniu
cerca de 60 participantes, representações das associações docentes e do ANDES
Sindicato Nacional. A atividade marcou os 20 anos de regulamentação da lei
estadual que não só estruturou o plano de carreira dos (as) professores (as)
das universidades estaduais da Bahia, como foi o marco para o desenvolvimento
do ensino, pesquisa e extensão nessas instituições.
História: da luta à conquista
A
primeira publicação do Estatuto do Magistério foi ainda em 1988. A luta por um
novo estatuto com o plano de carreira foi impulsionada pela greve que o
Movimento Docente baiano realizou em 1987, sob o governo de
Waldir Pires, que ficou conhecida como “Greve dos Marajás” – o nome surgiu a
partir de uma provocação do governador ao chamar os docentes universitários de
“marajás”. Após isso, apoiados nos debates acumulado no ANDES-SN sobre a
carreira docente durante década de 90, o MD avançou na luta por um plano de
carreira e reformulação do primeiro Estatuto, sendo essa uma das principais
reivindicações da greve ocorrida nos anos 2000.
“A greve de 2000 conquistou que em 2001 fosse formada uma comissão mista
entre professores, representantes do Estado e das instituições para reformular
o Estatuto. Importante destacar que, após isso, o movimento docente realizou
dois Encontros dos Docentes das Ueba para formular nossas propostas para essa
comissão. Mas, o governo não quis dar andamento à negociação e, por isso, o
movimento docente realizou uma greve das universidades em 2002 para cobrar a
aprovação do plano de carreira. E foi assim que arrancamos um acordo com o
governo para a publicação do novo Estatuto. Assim, sob o governo carlista, no
dia 2 de setembro de 2002, o novo Estatuto do Magistério Superior”, relembrou
Alexandre Galvão, historiador e coordenador do Fórum das ADs.
As principais mudanças do novo Estatuto foram a introdução de níveis entre as
classes, com a criação da classe pleno e dos níveis A e B, exceto para pleno; a
instituição da dedicação exclusiva como regime de trabalho; e a criação da
gratificação de estímulo às atividades acadêmicas.
Junto à rememoração dessa luta, os (as) professores (as) também homenagearam representações
docentes que foram fundamentais para estas conquistas. Entre elas, esteve a
homenagem à vida e luta de Maslowa
Islanowa Cavalcante Freitas, professora da Universidade Estadual de Feira de
Santana (Uefs) e liderança que contribuiu um papel central
na vitória do Estatuto do Magistério Superior. Raimundo Nonato, diretor de
Comunicação da Aduneb, destacou a importância da defesa da autonomia
universitária e apresentou um levantamento de registros fotográficos da greve
de 2002 feito pela Assessoria de Comunicação sindicato.
Assembleia Docente da greve de 2002. Levantamento: Ascom Aduneb
Manifestações da greve de 2002 com a luta pelo plano de carreira. Levantamento: Ascom Aduneb
A
discussão sobre o desenvolvimento das universidades a partir do Estatuto também
foi um ponto de debate. “É importante destacar que o Estatuto não foi só uma
vitória do ponto de vista da carreira, mas também no sentido de defesa da
educação por universidades públicas de qualidade. O estatuto tem um papel
fundamental no crescimento das universidades em termos de cursos e pesquisas. A
Uesc exemplo é um disso. Antes da estadualização e do Estatuto do Magistério
Superior, eram apenas 8 cursos. Hoje, são 32 cursos, além de inúmeras pesquisas
e projetos de extensão”, endossou Marcelo Lins, presidente da Adusc.
Desafios: defender o Estatuto dos
novos ataques
Apesar
de regulamentar o funcionamento da carreira docente enquanto lei, nos últimos
anos o Estatuto do Magistério tem sofrido sucessivos ataques do governador Rui
Costa, sejam com tentativas de mudanças sem diálogo com o movimento docente, sejam por medidas inconstitucionais.
Entre os ataques estão o desrespeito
à autonomia universitária na aprovação da mudança de regime de trabalho, o fim
da licença sabática em 2015 e o desrespeito ao intrínseco entre as classes e
níveis, como foi o caso da aplicação do reajuste salarial escalonado aplicado
para os professores (as), em 2022. Houve, ainda, tentativa de revogação do
artigo 22 do Estatuto, dispositivo que possibilita a redução de carga horária em sala de aula, de 12h
para 8h semanais, para que docentes em regime de trabalho de Dedicação
Exclusiva possam atuar mais tempo em pesquisa e extensão. Apesar da tentativa do governo de
desmontar o tripé ensino, pesquisa e extensão, o movimento docente conseguiu
derrotar essa movimentação com ganho de causa na justiça por Ação Direta
Inconstitucional (Adin).
“Precisamos defender os
direitos conquistados. Nunca tivemos um período tão intenso de ataques à
carreira como foi a última gestão do governador Rui Costa. Somado a isso, ainda
ficamos por sete anos com salários congelados para receber um reajuste que não
recompõe nem metade das perdas acumuladas”, demarcou Gean Santana, diretor da
Adufs.
Está indicado para próximo
dia 15 de setembro uma paralisação de 24 horas dos docentes das universidades estaduais.
A data já foi aprovada na assembleia da Uneb, está na pauta nas assembleias da
Adufs, Adusc e Adusb, que ocorrerão nesta semana. Além de debater a aprovação
do dia de luta os (as) docentes, a categoria também definirá uma programação de
atividades e protesto unificado em Salvador.
Fonte: Ascom Fórum das ADs, com edição.