Discussão sobre a ampliação de políticas públicas voltadas para mulheres lésbicas não podem ficar restritas ao mês de agosto
06/09/2022
No mês de agosto,
celebramos duas importantes datas para a luta das mulheres lésbicas: o Dia
Internacional do Orgulho Lésbico, no dia 19 de agosto, e o Dia Nacional da
Visibilidade Lésbica, em 29 de agosto. Ambas as datas reforçam a importância de
ampliar o enfrentamento em defesa dos direitos das mulheres que vêm sendo
historicamente negligenciados mesmo dentro do movimento LGBTQIAP+.
As recorrentes
tentativas de apagamento das reivindicações de mulheres lésbicas incidem na
ampliação da violência contra este grupo. Lesbofobia, lesbocídio e estupro
coletivo são algumas das violências cometidas, especificamente, contra este
grupo. As práticas têm uma ligação direta com os valores de uma sociedade
patriarcal, heteronormativa que não admite outra expressões de ser, existir e
amar. Mesmo dentro do movimento de mulheres, as lésbicas enfrentam desafios
para pautar suas reivindicações e ainda nos movimentos LBT’s, os estereótipos
fazem com que mulheres lésbicas que assumam características que não são
consideradas femininas, dentro do padrão de feminilidade estereotipado.
A professora da
Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS) e mulher lésbica, Mariana
Leonesy, falou conosco sobre a importância da reivindicação da visibilidade
deste grupo, ampliando a forma como são vistas pela sociedade: “É como se a
sexualidade da gente fosse vista pela sociedade somente a partir das agressões
que recebemos. E como se a nossa sexualidade fosse pública, ou seja, não está
no âmbito privado”, afirma.
Segundo dados de
pesquisa realizada por pesquisadoras da Universidade Federal do Rio de Janeiro
(UFRJ), o assassinato de mulheres pelo fato de serem lésbicas; o lesbocídio aumentou
mais de 237% no Brasil, entre 2015 e 2019. A falta de acolhimento destas
vítimas, mesmo nos espaços institucionais de segurança, inibe as denúncias,
muitas vezes, imputando culpa às mulheres: “O modelo heteronormativo rege e
impõe como se qualquer conduta ou comportamento violento pudesse ser
justificado. É bom lembrar que existe um grau muito forte de estupro e morte na
comunidade lésbica. E quando a gente fala de interseccionalidade todos esses
dados se tornam ainda mais presentes e absurdos”, relata a professora que
enfatiza como para grupos determinados a violência se amplia. É o caso de
mulheres trans, negras e lésbicas: “Este grupo de mulheres tem que ser pensado
e refletido dentro de um modelo de interseccionalidade na tentativa de
compreender as questões relativas aos direitos humanos e as questões de
respeito, compreensão, de toda e qualquer expressão e forma de existir”,
explica. Para a professora, a ausência ou carência de políticas públicas
contribui significativamente com o quadro de exclusão e invisibilidade a que
estas mulheres são submetidas.
São muitas as
reivindicações que precisam ser enfrentadas para contemplar as demandas de
mulheres lésbicas, entre elas, explica professora Mariana Leonesy, as
referentes a maior acesso a inseminação e fertilização in vitro e a licença maternidade que, na maioria dos casos, só se
consegue gozar por meio de judicialização.