Sem punição aos responsáveis pelos ataques contra trabalhadores/as em educação de Feira de Santana, parlamentar ainda é vítima de ameaças

01/08/2022


Nesta segunda, 1º de agosto, completa quatro meses que trabalhadores e trabalhadoras em Educação, parlamentares e profissionais da imprensa, foram brutalmente agredidos/as na prefeitura municipal de Feira de Santana, durante a ocupação de professores e professoras do município que estavam em greve. Diante da impunidade provocada pelos/as que se omitem em investigar e punir os/as responsáveis, a violência daquele dia ainda reverbera e continua fazendo vítimas.

O vereador Jhonatas Monteiro (PSOL), que esteve na linha de frente da defesa dos/das trabalhadores/as durante a ocupação, foi agredido pela Guarda Municipal e já tinha recebido ameaças logo após os eventos de 1º de abril, novamente é alvo de ameaças brutais que envolvem também a sua família. As ameaças de morte e ofensas racistas chegaram, desta vez, por e-mail, no início do mês de julho, mas somente na última semana foram divulgadas pela sua assessoria para preservar a investigação. Como parlamentar negro, Jhonatas Monteiro é mais uma vítima desta prática violenta que é estimulada pela maior autoridade do país e também encontra apoio nas instâncias estaduais e municipais.

A violência política racial e de gênero tem sido a tônica do cenário político brasileiro. Por vezes escondidos/as atrás de nomes falsos e/ou de forma anônima, agressores/as covardemente atacam grupos minoritários com a legitimação do discurso de ódio que continuamente é incentivado pelo presidente da república contra negros/as, mulheres, população LGBTQIAP+, indígenas, quilombolas e etc. Em média, o Brasil registra um ato de violência política a cada quatro dias, de acordo com organizações de direitos humanos, como Terra de Direitos e Justiça Global. Os dados apontam que, de janeiro de 2016 a setembro de 2020, foram registrados 125 assassinatos e atentados, 85 ameaças, 33 agressões, 59 ofensas, 21 invasões e quatro casos de prisão ou tentativa de detenção de agentes políticos. O caso mais emblemático da nossa história recente, continua sem solução: o assassinato da vereadora do PSOL/RJ, Marielle Franco, e de seu motorista, Anderson Gomes. O PSOL é também o partido que mais acumula ameaças contra parlamentares.

A estrutura racista da sociedade brasileira continua fazendo vítimas negras com o consentimento das instituições e suas principais lideranças políticas. Na Bahia, temos o exemplo do governador do Estado, Rui Costa, que, de forma recorrente, tem apoiado as ações da polícia baiana, principalmente, nas situações em que ocorre a matança de negros em bairros periféricos e marginalizados, sob a justificativa de confrontos policiais, quase sempre, negados pela população no que diz respeito a veracidade das informações da conduta dos agentes.  Em Feira de Santana, apesar de se esconder por trás da justificativa de que a segurança pública é responsabilidade do Estado, o prefeito Colbert Martins não hesitou ao defender a sua Guarda Municipal diante da violência desmedida contra os/as trabalhadores/as da Educação nos lamentáveis episódios que se sucederam no 1º de abril, atingindo uma maioria absoluta de mulheres e negros/as.

As perguntas sobre aqueles dias ainda ecoam: Quem autorizou as ações da Guarda Municipal? A quem interessa legitimar ações racistas e misóginas dos/das agentes da Segurança Pública seja a nível federal, estadual ou municipal?

Enquanto seguimos sem respostas, a Adufs vem a público, mais uma vez, cobrar o avanço das investigações da violência contra trabalhadores/as em educação, parlamentares e profissionais de imprensa, e repudiar os ataques que o vereador Jhonatas Monteiro vem sofrendo junto aos seus familiares.

Com a manutenção de práticas racistas, não há democracia. Não há democracia com a legitimação de ações violentas, racistas e misóginas na política ou em qualquer esfera social. A luta antirracista tampouco se resume à sensibilização de episódios isolados de racismo contra figuras públicas midiáticas. Seguimos na defesa inegociável da democracia e da classe trabalhadora, contrários/as à quaisquer tipos de violência que impeçam o legítimo direito à livre manifestação política.

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