Nos dias 27 de abril e 31 de maio, os (as)
docentes das Universidades Estaduais da Bahia - UEFS, UESB, UESC e UNEB -
paralisaram suas atividades acadêmicas em defesa de sua pauta de
reivindicações, protocolada há mais há mais de 5 meses (21/12/21) e depois de
dez solicitações oficiais de reunião, até o momento, sem resposta. Apesar da
promessa de manter uma mesa permanente de negociação, o Governo Rui Costa não
tem cumprido o acordo da greve 2019, estando a mesma paralisada desde aquele
ano. Em vez de dialogar com a categoria, opta por divulgar notas com
informações que procuram distorcer a realidade, com a finalidade de
desvalorizar os professores e professoras e as próprias universidades,
construindo um desprestígio frente à sociedade em tempos de negacionismo e
obscurantismo.
O governo afirma que a “Bahia é um dos três
estados que mais investiu em educação superior, mesmo com a crise econômica
instalada no país nos últimos anos”. A afirmativa induz o leitor a imaginar que
as Universidades Estaduais da Bahia não padecem dos mesmos males que as
universidades federais, submetidas às políticas do governo federal negacionista
e obscurantista.
Depois de sete anos sem reposição
inflacionária, a Bahia implementou o menor “reajuste” para os (as) docentes das
Universidades Estaduais. Se comparado com o reajuste salarial dos (as) docentes
das demais Universidades Estaduais do Nordeste é, também, um dos menores do
Brasil. Os (as) docentes receberam uma reposição de 4% destinada a todos os
servidores públicos, além de uma “reposição escalonada", baseada na carga
horária de trabalho. Mesmo somados, os ganhos ficam abaixo da inflação de 2021
(10,6%) e muito abaixo das perdas salariais acumuladas no governo Rui Costa,
cerca de 50%.
Os dados oficiais demonstram que as contas da
Bahia permitem o pagamento da inflação do ano passado. De acordo com o Portal
da Transparência, de 2020 para 2021, a Receita Líquida de Impostos teve um
aumento de 26%. Entretanto, o percentual da RLI destinado às universidades
sofreu uma retração: em 2020, foi destinado às instituições 4,9% da RLI, porém,
em 2021, 4,2%. A alta da inflação prejudicou os (as) trabalhadores, mas, por
outro lado, permitiu o aumento da receita do Estado, que não se materializou em
investimento nas universidades, com cerca de 50 mil estudantes, 280 cursos de
graduação e 180 cursos de pós-graduação espalhados por todo o Estado da Bahia.
O ano eleitoral também não é obstáculo para o
governo estadual pagar a reposição inflacionária de 2021 não só aos docentes,
mas a todo serviço público estadual. Pagar em dia os (as) servidores (as)
públicos (as) não é mérito. Os (as) cidadãos (as) pagam impostos e o governo
estadual tem o dever de usar o que arrecada no cumprimento de suas obrigações
salariais com os (as) servidores (as) públicos (as).
Nos últimos anos, os professores e as
professoras tiveram de defender sua carreira do conjunto de ataques promovido
pelo atual governo. Apesar da nota do Estado da Bahia alardear o crescimento do
regime de Dedicação Exclusiva e das promoções, a concessão destes direitos só
tem sido obtida na Justiça ou em greve, mostrando incompreensão da sua
importância para a qualidade do ensino das universidades públicas na medida em
que fortalece o tripé entre ensino, pesquisa e extensão.
Não há dúvidas da importância das
universidades estaduais, que reivindicam investimento compatível com seu papel
social: 7% da Receita Líquida de Impostos (RLI), índice jamais alcançado pelo
atual governo. O aumento do orçamento destinado às universidades, citado na
nota do governo, não acompanha a inflação dos últimos anos. A situação causa
sérios danos no funcionamento das Universidades, a exemplo, da ausência de
verbas para obras, pagamento de fornecedores, manutenção de laboratórios e
outras necessidades básicas de ensino, pesquisa e extensão. Os números
apresentados pelo governo são apenas o resultado de um crescimento natural de
orçamento que está longe de representar as reais demandas das universidades estaduais.
Valorizar professoras e professores das
Universidades Estaduais da Bahia não é gasto, é investimento. É necessário um
projeto de educação superior no Estado que prime por uma educação de qualidade,
socialmente e democraticamente referenciada, na qual o investimento nas
condições de trabalho dos profissionais seja prioridade.
Bahia, 2 de junho
de 2022
Fórum das Associações de Docentes das
Universidades Estaduais da Bahia
ADUFS, ADUSB, ADUSC e ADUNEB