24 de maio é dia nacional em defesa dos direitos dos povos ciganos

24/05/2022

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Professor Jucelho Dantas com a bandeira da população cigana

Nesta terça, 24 de maio, é celebrado o Dia Nacional do Cigano, dia de luta em defesa dos direitos da população cigana, pelo fim da discriminação contra este grupo minoritário. Os dados sobre a população cigana no Brasil ainda são muito escassos, com a subnotificação, estima-se que são mais de 500 mil ciganos/as no Brasil, divididos entre três grupos: Calon (que são maioria), Rom e Sinti. A sobrevivência desta população é carregada de estereótipos, violência e desinformação. Por isso, a urgência pela garantia dos direitos de ser dos povos ciganos através de políticas públicas que assegurem a sua existência. A incipiência dos dados, reconhecida pelos próprios órgãos oficiais, é uma constatação da negligência e omissão das instituições diante do pleito destes povos.



No documento “Brasil Cigano – Guia de Políticas Públicas para Povos Ciganos” (2013), a Secretaria de Igualdade Racial (Seppir) reconhece que os dados são incipientes e uma das grandes dificuldades encontrada para registro do IBGE é o fato de que nem todos os ciganos e ciganas são nômades; logo, a dificuldade de manutenção dos registros individuais dos subgrupos que se dispersam.


Professor da UEFS e cigano do grupo Calon, Jucelho Dantas, falou sobre a importância da valorização da cultura cigana e desconstrução de estereótipos. “Quando não se conhece determinada cultura tende-se a criar estereótipos sobre ela e assim é com a família cigana. Nesse sentido, para a desconstrução deste quadro, o papel do estado é fundamental”, afirma. O professor Jucelho destaca os episódios recorrentes de violência protagonizados pela polícia que tem assassinado ciganos e perseguido famílias inteiras, levando terror para as comunidades.


Em Jeremoabo, há cerca de cinco anos, após um desentendimento de um cigano com um policial, três ciganos foram assassinados; um deles após ser retirado de uma ambulância para prestação de socorro médico. Mais recentemente, em Vitória da Conquista, após desentendimentos entre policiais e ciganos, oito ciganos irmãos, dois menores de idade, foram mortos em quatro ações distintas da polícia numa evidente perseguição da polícia militar ao grupo. A Adufs emitiu nota de repúdio contra a truculência da polícia que resultou na violência desmedida contra uma família inteira. “Diante desta situação não houve nenhuma manifestação do governo do estado e o secretário de segurança frisou que a ação dos PMs estava dentro das normas. A secretaria de promoção da igualdade racial também se calou. Então, a quem recorrer? As autoridades que poderiam intervir nesse processo não intervieram e policiais foram condecorados, homenageados, pela belíssima ação de ter executado oito irmãos”, lamenta.


Na luta pela desconstrução dos estereótipos, principalmente os relativos à violência, o professor Jucelho destaca que “é necessário que se trate os ciganos de forma heterogênea, que não se julgue todos por um. Muitas vezes, o indivíduo que comete um delito, não foi a etnia, um povo; foi um indivíduo que passa a ser tratado como “os ciganos que mataram, os ciganos que roubaram”. Então, as consequências disso para a população é muito ruim porque todos acabam levando a pecha de criminosos e, consequentemente, todas as sanhas punitivas da polícia, quando acontece um caso envolvendo um cigano, sobrecaem em qualquer cigano. Se você se identifica como cigano, você é morto, é torturado”, afirma Jucelho Dantas.


Dentro dos espaços educacionais ainda há muito a caminhar para se dar maior visibilidade  à diversidade cultural da população cigana. Segundo o professor Jucelho, dentro da UEFS é possível se perceber uma mudança no aumento da produção de pesquisas nessa área que, naturalmente, ocorre com a sua inserção no quadro trazendo seus interesses de pesquisa. O professor destaca ainda o trabalho realizado pela professora Sandra Nívea que colabora com a abordagem dos povos tradicionais, o que contribui significativamente no combate contra a invisibilização e aumento da discriminação contra os povos ciganos, passo importante na luta pela garantia dos direitos desta população.

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