Manifestação docente contra silêncio do governo à pauta docente teve apoio de diversas categorias

29/04/2022

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A radicalização do movimento não está descartada Foto: Ascom Adusb

Falas de indígenas, estudantes, representantes políticos e membros de outras entidades, em protesto ocorrido na quarta-feira (27), ressoaram o grito dos professores em defesa das universidades estaduais da Bahia. A posição dessas diversas categorias no ato público organizado pelo movimento docente, na praça da Piedade, em Salvador, revela que longe de ser uma reivindicação isolada, a pauta dos educadores representa também o anseio de diversos segmentos da sociedade. Transeuntes que passaram pelo local apoiaram a atividade.

 

“Viemos de um grupo que é massacrado desde 1500 e tem seus direitos negados. O que conquistamos é resultado da nossa resistência. Estamos aqui para declarar nosso apoio a vocês e para dizer que essa luta também é dos povos indígenas, que possui uma pauta em defesa da educação pública”, disse Ângelo Kaimbé, indígena e professor na Aldeia Massacará, localizada em Euclides da Cunha. Kaimbé integra uma das diversas etnias com representação na Bahia que estão acampadas na Assembleia Legislativa da Bahia (Alba) com o objetivo de discutir com o governo estadual e o Legislativo pautas relativas aos territórios dos povos originários, saúde e educação.

 

O tratamento dispensado pelo governo estadual às diversas categorias em luta foi lembrado pelo diretor da Adufs, Gean Santana, para expor a truculência de Rui Costa e sua equipe contra os que se levantam contra seus desmandos. “No dia 26 de abril, a Polícia Militar agrediu indígenas em frente à Governadoria, por protestarem por melhorias na educação. Este não foi um fato isolado. Mais uma vez, o governo demonstrou sua truculência e irresponsabilidade no trato com os movimentos sociais. Na greve de 2019, os professores das universidades estaduais também foram duramente violentados por este governo”, lembrou o professor da Uefs. Ainda em sua fala, Gean Santana explicou à população o porquê da mobilização docente das quatro instituições, condenou o arrocho salarial imposto pelo governo Rui Costa e sinalizou que novas mobilizações serão realizadas para pressioná-lo a abrir o canal de negociação com a categoria.

 

Atividades do ato

A praça da Piedade abrigou a luta dos docentes quase 223 anos após ser palco do massacre de um dos movimentos mais importantes do Brasil Colonial e que teve protagonismo dos negros libertos e escravos (conhecido como Revolta dos Búzios). Além das falas de alguns dos presentes, o protesto teve uma apresentação artística com pessoas que, abaladas, mas resistindo firmemente aos ataques do governo Rui Costa, representaram cada uma das quatro universidades estaduais baianas. Papéis com a pergunta “o que sufoca as universidades estaduais”, lida por uma integrante do Fórum das ADs, foram colados em cada um deles. Insuficiência de docentes no quadro efetivo de servidores, ataque à autonomia universitária, falta de concursos públicos e insuficiência das ações voltadas à política de permanência estudantil foram algumas das respostas.

 

Bandeiras, uma faixa indicando a paralisação pela retomada da mesa de negociação, panfleto explicando o porquê do ato e cartazes com mensagens sobre o ataque do governo ao Estatuto do Magistério Superior, o achatamento salarial e os mais de 800 dias de suspensão da mesa de negociação endossaram o protesto, que ainda teve apresentação musical de uma banda com artistas de Salvador.

 

A manifestação teve o objetivo de denunciar o descaso e a falta de diálogo do governo Rui Costa para com o movimento docente. Em Feira de Santana, a mobilização começou às 8h, com panfletagem e café da manhã no pórtico da Uefs. A ação teve ampla cobertura da imprensa local. Ao meio-dia, docentes e discentes seguiram para o ato unificado, em Salvador.  A categoria reivindica reajuste salarial e alguns pontos relacionados ao cumprimento dos direitos trabalhistas, previstos em lei, e há diversos anos negados pelo governo Rui Costa; a autonomia universitária e a destinação de 7% da Receita Líquida de Impostos (RLI) para as universidades. Neste momento, a centralidade da luta é a recomposição completa das perdas salariais acumuladas nos últimos sete anos.

 

Os professores continuam mobilizados e reivindicando o diálogo com o governo, através da retomada da mesa de negociação. A radicalização das ações, com uma possível deflagração da greve, não está descartada. Os próximos passos para a deflagração do movimento paredista, no entanto, dependem da resposta do governo Rui Costa. 




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