Cortes orçamentários limitam a contribuição da ciência à melhoria da qualidade de vida da população
05/04/2022
A contribuição da produção científica e tecnológica brasileira,
nas diversas áreas, para o conjunto da sociedade ganhou ainda mais notoriedade
durante a pandemia causada pela Covid-19. A Uefs e demais universidades públicas
do Brasil são pólos de desenvolvimento científico e responsáveis por 90% das
pesquisas feitas no país. Centenas de estudos realizados por estes centros de
pesquisa beneficiam diversas cidades e contribuem com a melhoria da qualidade
de vida de milhares de pessoas. O governo genocida e negacionista de Jair
Bolsonaro, no entanto, impõe ao setor cortes orçamentários milionários,
agravando o cenário de escassez que, há anos, já era considerado crítico. A
política do governo Rui Costa de estrangulamento financeiro dessas instituições
soma-se ao entrave para o desenvolvimento do setor.
No orçamento para a União em 2022, o Ministério da
Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI) perdeu R$ 73 milhões. O Conselho
Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) teve redução de R$
9,459 milhões em programas de pesquisa e bolsas. A Fundação Oswaldo Cruz
(Fiocruz), destaque pela produção de vacinas, teve perda de R$ 11 milhões em
verbas para este ano. Em 2021, já houve o corte de R$ 635 milhões de
recursos que seriam destinados a bolsas e apoio à pesquisa, vinculadas ao MCTI.
Os cortes de recursos e a falta de incentivo cada vez mais nítida implicaram em
prejuízos generalizados, como a suspensão do pagamento das bolsas de pesquisa; o
não financiamento das propostas eventualmente aprovadas em editais do CNPq, que
é um dos maiores editais de pesquisa do país; o conhecido “apagão do CNPq”, quando,
em julho de 2021, o servidor do Conselho saiu do ar e inviabilizou o acesso a
várias plataformas, entre elas o Currículo Lattes; e projetos da Antártica.
Mas, o desinvestimento na ciência encontra resistência de
pesquisadores e outras categorias de trabalhadores e estudantes. Na Bahia, por
exemplo, a valorização da ciência, que perpassa pela garantia das condições de
trabalho e estudo nas universidades, fez parte da campanha de mídia do Fórum
das ADs. (LINK) A diretoria da Adufs entende que a produção científica está intimamente
ligada ao desenvolvimento educacional, cultural e social do país, haja vista a
descoberta de soluções para as variadas consequências das desigualdades sociais
que o assolam. Também defende não haver dissociação entre sociedade e
universidade e que, por isso, defender a produção científica perpassa pela
defesa do investimento dessas instituições, espaços de produção e
compartilhamento de conhecimento. Por isso, os diretores permanecem em luta contra
as políticas dos governos de desprezo à ciência e estagnação do conhecimento
produzido nas universidades públicas.
Professora da Uefs
Este mês, as contribuições científicas da
professora Edna Maria de Araújo foram destaque nacional. Lotada no Departamento
de Saúde da Uefs (Dsau), a docente que também foi diretora da Adufs durante
três gestões, possui pesquisas voltadas à saúde e epidemiologia; saúde da
população negra e a intersecção do racismo sobre as práticas de cuidado em
estados do Nordeste e Sudeste brasileiro; estímulo à produção de tecnologias
educativas para a prevenção da violência em escolas da rede pública de Feira de
Santana; e à caracterização dos aspectos epidemiológicos da Doença Falciforme e
sua distribuição espacial em Feira de Santana.
Ano passado, Edna Maria de Araújo publicou um
artigo na Revista Interface, Educação e Comunicação em Saúde. Nessa edição,
a docente, em conjunto com outras professoras, revela evidências de que os
cursos de saúde das universidades brasileiras não inserem, em seus currículos, o
ensino das relações étnico-raciais. Para a docente, a política curricular de
ação afirmativa contribui para que os profissionais da área da saúde obtenham
conhecimentos sobre as doenças e agravos que são mais prevalentes na população
negra e em outras populações vulnerabilizadas. Ainda em 2021, Edna Maria de Araújo
publicou notas técnicas e artigos chamando a atenção para os impactos da
pandemia da Covid-19 nas populações em situação de vulnerabilidade.
Entre os resultados das pesquisas da
ex-diretora da Adufs, seus colegas e orientandos estão envolvidos na criação da
Associação Feirense de Anemia Falciforme e o Centro de
Referência para assistência multidisciplinar a pessoas que têm a doença,
ambos em Feira de Santana; e a criação do grupo temático Racismo e Saúde, na
Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco).
Edna Maria de Araújo é enfermeira, mestra e
doutora em Saúde Pública. Atualmente, está aposentada da Uefs, mas segue como
professora e orientadora do mestrado e doutorado em Saúde Coletiva da
universidade. Ainda atua no mestrado profissional em Saúde da População Negra e
Indígena da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB).