Violência contra trabalhadores/as da Educação, em Feira de Santana, confirma escalada autoritária que atinge todo o país
05/04/2022
Protestos, guardas com cassetetes, agressão
física, confronto, spray de pimenta, bombas de gás, sangue, gritaria, ameaças,
advogados impedidos de acessar clientes, profissionais sitiados/as... Qualquer
semelhança com um cenário ditatorial não é mera coincidência. As cenas
criminosas de uso da violência contra trabalhadores e trabalhadoras em
Educação, em Feira de Santana, que repercutiram nacionalmente na última semana
escancaram o abismo entre um projeto educacional qualitativo que considere toda
a comunidade escolar como parte indissociável da construção da educação
pública, o que inclui a valorização da carreira docente, e os projetos
políticos governamentais de gestão institucional.
Com perplexidade e indignação, a sociedade
acompanhou em tempo real cenas de terror diante da covardia do governo
municipal que, sem capacidade e sobretudo interesse para estabelecer o diálogo,
lançou mão da força tal qual um senhor que apenas faz cumprir os seus desmandos
em um cenário de total retração dos direitos. O fato desta sucessão de
violências ter começado no dia 31 de março, dia em que se resgata a memória das
atrocidades cometidas durante o período ditatorial com o Golpe de 1964, não é
fruto do acaso. Há uma escalada ditatorial em curso.
Ainda que não tivesse ocorrido nesta data,
todos os elementos seriam taxativos quanto à constatação sobre o total estado
de exceção que se construiu a partir da inabilidade tirana de Colbert Martins e
sua secretária de Educação, Anaci Paim, contra cidadãs/ãos em busca de diálogo.
A data emblemática, no entanto, nos serve de reflexão sobre como em nível
federal, estadual e municipal temos enfrentado governos que se constituem por
vias democráticas mas, ao chegar no poder, instrumentalizam ações de repressão
que atingem sobretudo a classe trabalhadora que reivindica seus direitos.
O processo de criminalização dos movimentos
sociais e sindicais combina estratégias que mobilizam diversos setores e
instituições. Para mascarar a violência, parte da mídia se torna uma aliada no desenvolvimento
de argumentos que subvertem a lógica e colocam trabalhadores/as como vândalos,
ocupação como invasão, e a luta por direitos como reclamação de privilégios. O
executivo e o legislativo federal, por sua vez, operam na tentativa de
aprovação de leis que possam criminalizar os movimentos e autorizar a força
policial contra eles.
A Lei Antiterrorismo, aprovada com vetos em
2016, pela presidenta Dilma Roussef que a considerava imprecisa e
excessivamente ampla sobre determinados pontos de criminalização dos chamados
atos de terrorismo volta à discussão. O Projeto de Lei 732 enviado ao Congresso
pelo presidente Jair Bolsonaro e aprovado em setembro do ano passado por uma
comissão especial, que é criticado por diversos integrantes do judiciário e até
pela Organização das Nações Unidas pela margem aberta para arbitrariedades, é
uma evidente tentativa de criminalização de manifestações contrárias ao governo
federal, que servirá de álibi também para outras esferas governamentais, já que
promete punir manifestações consideradas “violentas com fins políticos ou
ideológicos” e afrouxar as punições dirigidas aos agentes públicos de
segurança. Diante da escalada autoritária do governo Bolsonaro, a atualização
da lei antiterrorismo é uma ameaça à democracia e à classe trabalhadora.
Uma vez utilizada por governos que criam suas
narrativas com auxílio de parte da mídia e parte do judiciário, não será
difícil caracterizar manifestações pacíficas como altamente violentas. Já vimos
isso acontecer inúmeras vezes com a metáfora dos “artilheiros na cara do gol”
da polícia do governador Rui Costa – lembremos da chacina do Cabula, em
Salvador, no ano de 2015. Assim como tivemos a oportunidade de ouvir as
vexatórias palavras de Colbert Martins que, em entrevista concedida à TV Subaé
na última quinta-feira, quando foi enfático ao definir a ação violenta dos seus
guardas municipais como legais e necessárias para impedir que mais violência
fosse praticada.
Contraditoriamente, o mesmo prefeito que
autoriza o uso da força para reprimir manifestantes em pleno exercício
democrático de reivindicação de direitos, lançou, no início de março, ampla
campanha de pedido de paz para o município. A campanha Feira Pede Paz é um
escárnio diante da conduta covarde e truculenta do prefeito.
Na contramão dos desmandos governamentais, os
movimentos sociais e sindicais seguem mobilizados na defesa inegociável pela
livre reivindicação dos direitos contra quaisquer tentativas de repressão e
deslegitimação dos movimentos. A solução para barrar o avanço do autoritarismo
não virá de outro modo senão por meio da luta. Neste ponto, seguimos
violentamente pacíficos e vigilantes para que nenhum passo atrás seja dado e
nenhum direito seja arbitrariamente reprimido sem reação imediata.