Governo Bolsonaro amplia as desigualdades de gênero no país
08/03/2022
A exploração do sistema capitalista, machista
e misógino sobre as mulheres, intensificada no governo Bolsonaro, ameaça conquistas
nas diversas áreas em mais de um século de lutas históricas da categoria. Em se
tratando do mercado de trabalho, alterações na legislação trabalhista e
previdenciária do Brasil, juntamente com a crise econômica aprofundada pela Covid-19,
ampliaram ainda mais as desigualdades de gênero. Neste 8 de março, quando se
comemora o Dia Internacional de Luta das Mulheres, a diretoria da Adufs, que sempre
marca a data com mobilização, endossou o ato construído na terça-feira (8) por
diversas entidades para reafirmar a luta pela defesa dos direitos das mulheres e
pelo fim das desigualdades de gênero.
Os efeitos da crise no mercado de trabalho
resultaram na ampliação do desemprego, informalidade, trabalho precário,
redução do rendimento dos trabalhadores e da desigualdade, prejudicando mais as
mulheres, sobremaneira, as negras e pobres, que ocupam posições mais
vulneráveis no mercado de trabalho, historicamente. Pesquisa divulgada em 2021
pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos
(Dieese) revela que entre o terceiro trimestre de 2019 e 2020, a ocupação
feminina saiu de 41,2 milhões para 35,5 milhões. Neste mesmo período, o
contingente daquelas situadas fora da força de trabalho aumentou 8,6 milhões. A
discrepância salarial entre homens e mulheres também ficou evidenciada. Em 2019,
elas recebiam R$ 1.947 e eles, R$ 2.518. No ano de 2020, elas ganhavam R$ 2.191
e eles, R$ 2.694.
A taxa de desemprego das mulheres negras e
não negras cresceu 3,2 e 2,9 pontos percentuais, respectivamente, sendo que a
das mulheres negras atingiu a alarmante taxa de 19,8%. A diferença de
rendimentos entre homens e mulheres persistiu, principalmente para as mulheres
negras, que em 2020, receberam, em média, por hora, R$ 10,95 e o homem negro R$
11,55. Entre os não negros, o rendimento era R$ 18,15 para as mulheres e R$
20,79, para os homens.
Os números do mercado baiano também seguem essa
triste tendência dos indicadores nacionais, entre o terceiro trimestre de 2019
e 2020. A taxa de desocupação das mulheres saiu de 19,8% para 24,9%. As
ocupadas somavam 32,5% e caíram para 25,5%. No Estado, as mulheres também
continuam ganhando menos – em 2020, as mulheres recebiam R$ 1.605, já os
homens, R$ 1.756.
Academia
Estudos recentes revelam que a desigualdade
de gênero na academia também se acentuou durante o período pandêmico. Como a
cultura machista e patriarcal impõe os serviços domésticos ainda como atribuições
exclusivamente femininas, elas lidam com um cotidiano exaustivo de conciliar, no
espaço das próprias residências, as tarefas do lar, cuidado com idosos,
crianças e/ou pessoas com deficiência e a jornada do trabalho remoto implantado
para garantir a continuidade das atividades acadêmicas durante a pandemia. Os
diversos desafios das atividades on line
tornaram a rotina ainda mais desgastante e queixas de esgotamento físico e
mental por conta da sobrecarga de tarefas foram constantes por grande parte da
categoria nas instituições de ensino superior do país.
Levantamento do Movimento Parent in Science, projeto
que estuda parentalidade e ciência, em especial, as questões de gênero e raça, revelam
maiores dificuldades para as mulheres de diversas áreas do conhecimento e
instituições de pesquisa manterem a rotina de trabalho acadêmico. Segundo o
estudo, os acadêmicos do sexo masculino, em especial os sem filhos, foram menos
afetados pelas circunstâncias da pandemia, enquanto as acadêmicas do sexo
feminino, especialmente mulheres negras e mães, sofreram maiores impactos.
Realizada entre abril e maio de 2020, o
levantamento aponta que apenas 4,1% das docentes com filhos conseguiram manter
a produção acadêmica remotamente. Entre os homens com filhos, o percentual sobe
14,9%. Elas são 70,4% do corpo docente que conseguiu cumprir prazos
relacionados a solicitações de fomento/bolsas e/ou submissão de relatórios,
quando os homens são 79,6%. Para as mães, o índice cai para 66,6%. Se o assunto
é submissão de artigos científicos como o planejado, elas são 49,8% e eles
somam 68,7%. As negras e mães são ainda mais afetadas. Elas são 3,4% das docentes
com filhos que conseguiram manter a produção acadêmica trabalhando remotamente,
68,2% do corpo docente que conseguiu cumprir prazos relacionados a solicitações
de fomento/bolsas e/ou submissão de relatórios. No que se refere à submissão de
artigos científicos como o planejado, elas são 46,5%.
Docentes da Uefs
Uma
pesquisa realizada entre outubro de 2020 e fevereiro de 2021 com docentes da
Uefs, intitulada Trabalho Docente e Saúde em Tempos de Pandemia, descreve
as condições de trabalho remoto na universidade e a situação de saúde deste
servidor. Preocupada com as mudanças provocadas pela pandemia ao mundo do
trabalho da categoria, a diretoria da Adufs colaborou com o estudo.
Conforme
a pesquisa, 84,8% dos 395 questionários avaliados revelaram que os docentes não
se sentiam capacitados e dependiam da ajuda de outra pessoa para a realização
de suas tarefas remotas. Outro dado preocupante diz respeito ao impacto das
atividades na qualidade do sono e, por consequência, na saúde mental. Entre as
docentes, 28,8% disseram ter uma boa qualidade do sono. Os homens somam 41,5%.
A prevalência de Transtorno Mental Comum atingiu 46,3% da categoria, sendo as
mulheres as mais afetadas.
A pesquisa foi desenvolvida pelo Núcleo
de Saúde, Educação e Trabalho da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia
(NSET/UFRB) e Núcleo de Epidemiologia da Universidade Estadual de Feira de
Santana (NEPI/UEFS). Conheça a pesquisa.
Marília
Lordêlo, lotada no Departamento de Tecnologia da Uefs (DTEC), conta que “dar
aulas através das novas tecnologias trouxe dificuldades porque todo o processo
foi novo. Foi preciso rever as práticas pedagógicas, sem tempo hábil para tal,
num primeiro momento. O professor ainda precisou
se adequar às diversas realidades dos estudantes como, por exemplo, dos que não
tinham acesso à internet ou computador para acompanhar as atividades
acadêmicas. Desafios pessoais e profissionais juntos, no ambiente do lar”. Mãe
de duas crianças, 7 e 9 anos, a docente ainda relata dificuldades para
estabelecer o “limite da casa, do trabalho e da escola das filhas porque, de
repente, tudo estava dentro do ambiente doméstico. Complicado manter a
estabilidade emocional em um contexto tão adverso. Nós, mulheres, ficamos ainda
mais sobrecarregadas, e a falta de calma e paciência, resultante dessa
sobrecarga, impactou nas nossas relações e na nossa saúde mental. Soma-se a
isso, a preocupação, a angústia e a tensão de vermos pessoas perderem
familiares e amigos para a Covid-19, além de acompanhar aquelas que enfrentaram
dificuldades financeiras por conta do desemprego que acompanhou a pandemia”.
Apesar de
contar com a colaboração do companheiro na divisão das tarefas domésticas, Hélia
Malta, também do DTEC, observa que a mulher precisa de uma rede de apoio para a
execução da atividade laboral. “O fato de não ter onde deixar meu filho faz
toda a diferença, principalmente na concentração, pois a criança sempre vem em
busca da mãe primeiro. Tentar entretê-lo, fazer atividades didáticas, ficar com
ele e trabalhar foi difícil. Por conta da sobrecarga de trabalho, sofri com
falta de concentração, sono desregulado, tensão no ombro e dor de cabeça. Homem
e mulher não exercem a atividade laboral em igualdade de condições. Nós
precisamos de estrutura, equipamento público de apoio e igualdade de condições
de trabalho”.
A luta
continua
Há muitos desafios pela frente. O governo retrógrado
de Bolsonaro intensifica cada vez mais os ataques às pautas progressistas,
ameaçando a vida das mulheres, sobretudo as negras, periféricas, indígenas,
quilombolas, LBTs, idosas e com deficiência (PcDs). Torna-se urgente a luta pela
vida e pelos direitos das mulheres.
Nesta terça (8), mulheres de todo o mundo estão
nas ruas por direitos. No Brasil, o Dia Internacional de Luta das Mulheres
Trabalhadoras este ano tem como tema “Pela Vida das Mulheres – Bolsonaro nunca
mais! Por um Brasil sem machismo, racismo e fome!”