Governos devem ser responsabilizados por destruição provocada por enchentes na Bahia
29/12/2021
Os rastros de destruição
deixados pelas fortes chuvas que caíram na Bahia nas últimas semanas continuam
crescendo. Já são 136 municípios em estado de emergência, mais de 77 mil
pessoas que tiveram suas residências destruídas, por isso, estão na condição de
desabrigados, além das 21 mortes e mais de 350 feridos em todo o Estado.
Diante deste cenário
desolador, a Adufs manifesta total solidariedade às famílias atingidas e se
soma às correntes de ajuda no apoio direto com uma quantia em dinheiro para a
compra de itens necessários para amenizar o sofrimento dos/das desabrigados/as,
incentivando que mais pessoas e organizações possam colaborar para reduzir os
danos provocados pelas chuvas nas últimas semanas. Além de reparar os estragos
é preciso responsabilizar as autoridades pela falta de estrutura para evitar
minimamente que estes eventos vulnerabilizem a população nesta proporção.
A intensidade das chuvas,
segundo especialistas, se deu em decorrência de três fatores significativos que
juntos produziram consequências desastrosas e atípicas para o cenário baiano: La Niña,
uma depressão subtropical e o aquecimento global. La Niña provoca chuvas abundantes e o aumento do fluxo dos rios
causando inundações, enquanto a depressão subtropical forma ventos, nuvens e
agitação marítima que podem resultar em uma tempestade tropical. Com o aumento
gradativo da temperatura do planeta, a expectativa é de que mais eventos como
estes voltem a ocorrer de forma abrupta, levando caos e destruição às
populações, sobretudo àquelas de maior vulnerabilidade. A combinação destes
três fatores em um único momento trouxe consequências para populações em
diversas regiões do Estado.
O fato é que não é de
hoje que eventos climáticos têm afetado diretamente a vida da população baiana
sem que haja uma intervenção dos governos de forma a criar estruturas que diminuam,
substancialmente, os danos sofridos. As chuvas não são somente esperadas, são
mais que necessárias para a sobrevivência da população, equilibrando o
ecossistema diante dos períodos longos de estiagem. A perfuração de poços e
construção de barragens irregulares, por exemplo, historicamente tem sido uma
alternativa para escapar da seca ou favorecer negócios pessoais na área da
agricultura e pecuária que geram benefício para alguns em detrimento da
cessação hídrica para a maioria.
São frequentes as
denúncias de falta de assistência aos moradores que residem no entorno de
barragens. A falta de segurança e transparência sobre as reais condições dos
equipamentos colocam a população local à mercê dos empreendimentos. Na Bahia, dez
barragens estão com nível crítico e são acompanhadas por haver riscos associados
à capacidade máxima de volume. Duas barragens romperam-se, uma em Jussiape, outra
próxima à Vitória da Conquista, a barragem do Iguá, e mais dez tem riscos
iminentes associados à capacidade diante das cheias. O Movimento dos Atingidos
por Barragens (MAB), formado por pessoas impactadas pela construção de barragens,
tem sistematicamente chamado atenção para falta de um plano de segurança em conter
os impactos cotidianos das estruturas e evitar tragédias em casos de
rompimento. Embora não haja relato de mortes nos dois rompimentos ocorridos
nesta última semana, os prejuízos estruturais, físicos e emocionais são
incalculáveis.
Não existe preparação emergencial
para o escoamento e volume das águas, tanto em relação aos impactos das
barragens, quanto em situações como a que vivemos agora com o aumento do fluxo em
decorrência da intensidade das chuvas nos rios que cruzam as cidades. Apenas aguardar
a água baixar e um plano de fuga diante da situação já instalada não podem ser
considerados como ideais tendo em vista que os prejuízos associados vão muito
além das perdas materiais que por si só já representam grandes danos às
famílias, mesmo quando as cheias não causam repercussão, como agora, diante da
extensão do estrago e quantidade de vítimas.
A falta de interesse
político em lidar com estas questões faz com que o assoreamento de rios, as
construções irregulares de barragens, poços, residências e a falta de saneamento básico que
destrói ainda mais os recursos naturais, não são amplamente discutidos e diante
da grande comoção, a conta da tragédia neste momento recai somente na conjunção
de fatores climáticos atípicos. O desespero que as milhares de famílias baianas
enfrentam neste momento poderia ser substancialmente evitado se as gestões se
pautassem nos reais problemas cotidianos da população, prevendo situações de
risco que são obviedades diante das características ambientais das regiões,
associadas ao crescimento desordenado das cidades, que também é
responsabilidade dos municípios, e falta de estrutura dos equipamentos
construídos, no caso das barragens.
Os governos do PT na
Bahia, em quase 16 anos completos de governo esteve mais preocupado com os
ataques às instituições públicas e seus/suas servidores/as do que com a gestão
de risco para populações vulneráveis. Neste ponto, não há como promover uma separação
absoluta entre governo estadual e federal, por vezes também o municipal,
somente pela preocupação demonstrada pelo primeiro; enquanto o segundo,
liderado por Jair Bolsonaro, apresenta seu total desprezo pela população baiana
ao se exibir feliz, em mais um período de férias; enquanto milhares de pessoas
padecem sem ter o que comer ou vestir, amontoadas em escolas.
O recurso irrisório, liberado
pelo governo federal para o plano emergencial, principalmente comparado aos
gastos com a compra de parlamentares para a aprovação de seus projetos contra o
povo - foram apenas R$19 mi para o povo e 16,2bi para passar o orçamento
secreto na Câmara dos Deputados - reforçam o caráter perverso de um gestor que
despreza as necessidades vitais da população.
A necessidade de
reconstrução das estruturas destruídas pelas chuvas é indiscutível bem como a
total assistência às vítimas, mas tragédias voltarão a ocorrer com ainda mais
prejuízos se os governos insistirem em gestões que não levem em consideração os
fenômenos naturais no desenvolvimento urbano, principalmente diante das consequências
associadas ao aquecimento global que devem se intensificar vigorosamente nos
próximos anos.
As correntes de
solidariedade formadas entre a população civil estão cumprindo um papel social
fundamental de apoio e acolhimento às vítimas, mas a responsabilidade pelos
prejuízos deve ser integralmente dos governos e não daqueles/as que já convivem
com outras mazelas provocadas por gestões pautadas na destruição das instituições
públicas e na falta de preocupação com as reais necessidades do seu povo,
entregando-o ao desemprego, miséria e fome. Sem a mudança destes gestores, as
políticas executadas tendem a trazer ainda mais prejuízos à população.