Adufs mediará duas mesas na programação do Novembro Negro da Uefs

09/11/2021

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Com o tema "Direitos da população negra: desafios contra um Estado conservador e autoritário", as atividades do Novembro Negro da Universidade Estadual de Feira de Santana (Uefs) tiveram início no último dia 3 e seguem até o dia 30 deste mês, no formato virtual. A programação organizada pela Pró-reitoria de Políticas Afirmativas e Assuntos Estudantis (Propaae) conta com uma série de ações em referência ao mês da Consciência Negra, como mesas-redondas, cursos, minicursos, seminários, rodas de conversa, contação de história, exposições de fotos virtuais, curtas e apresentação musical. Confira a programação na íntegra.


No dia 16 de novembro, às 17h, a Adufs mediará a mesa "Desafios e perspectivas dos direitos das mulheres negras no contexto político conservador e autoritário brasileiro". A mesa será composta por Ana Georgina da Silva Dias, Supervisora Técnica Regional do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), e Núbia Regina Moreira, professora da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (Uesb). A mediação ficará por conta da professora da Uefs e Diretora da Adufs, Acácia Batista Dias.


Já no dia 18 de novembro, às 17h, a discussão será sobre a juventude negra. A Mesa: "Desafios e perspectivas dos direitos dos jovens negros no contexto político conservador e autoritário brasileiro", será composta por Otto Vinícius Agra Figueiredo, professor da uefs, e João Diógenes Ferreira dos Santos, também docente da Uefs diretor da Adufs. O mediador será o diretor desta seção sindical do ANDES-SN, Gean Cláudio de Souza Santana. Ambas as mesas serão realizadas através do canal do YouTube da Adufs.Confira a programação das mesas mediadas pela Adufs.


A demarcação do mês de novembro como mês da Consciência Negra é uma importante conquista política dos movimentos negros na defesa pela ampliação de vozes e ações no enfrentamento ao racismo, que produz cada vez mais vítimas em todo o país. No mês de agosto, o Fórum Brasileiro de Segurança Pública divulgou os dados do Atlas da Violência relativos à 2019 que mostram o aumento da violência na Bahia. Ao contrário do que acontece no cenário nacional, que está em ritmo de queda de mortes violentas, a Bahia apresentou um aumento de 12,6% no número de homicídios em 11 anos, entre 2009 e 2019. Enquanto é registrado uma queda nacional nos casos de 20,3%, na Bahia o crescimento é de 10,3%. Os dados são coletados do Sistema de Informação sobre Mortalidade do Ministério da Saúde (SIM/ MS) e do Disque 100.


A Bahia é o terceiro estado com mais Mortes Violentas por Causas Indeterminadas (MVCI), ficando atrás apenas de São Paulo e Rio de Janeiro. São consideradas MVCI os casos de mortes violentas por causas externas em que não foi possível estabelecer a causa básica ou a motivação. Entre as possibilidades estão lesão autoprovocada (suicídio), acidente, agressão por terceiros ou homicídios. No ranking das cidades com maior taxa de juvenil, a Bahia também subiu de posicionamento, ocupando a 2ª posição, atrás somente do Amapá. A taxa de mortalidade juvenil baiana é de 97 a cada 100 mil jovens, a média nacional é de 45,8 a cada 100 mil.


Os dados, mais uma vez, escancaram uma realidade denunciada cotidianamente por organizações, movimentos e entidades que criticam a ausência de políticas públicas e denunciam o genocídio da população negra, especialmente, da juventude negra, que vem sendo exterminada por força do Estado, seja através de ação direta via força policial que escolhe seus alvos pela cor e classe social, ou pela omissão, por meio da inanição de políticas públicas de aumento da qualidade de vida, acesso à cidade e ao lazer, promoção de empregos e distribuição de renda.


A violência, segundo os dados do Fórum, é a principal causa de mortalidade entre jovens de 15 e 19 anos. Entre 2016 e 2020, a cada duas horas, um jovem negro foi morto violentamente no Brasil. A população negra permanece sendo a maior vítima desta morte não apenas entre os jovens. São negras 66 % das mulheres mortas por causas violentas. Em 11 anos, entre mulheres negras o número de mortes cresceu 2%, enquanto entre não-negras caiu 27%. Como explicar o aumento da violência em grupos específicos numa mesma sociedade se não apontando para ação racista e genocida do Estado que, através de representantes descomprometidos/as com as pautas antirracistas e antissexistas, fomentam o crescimento das mortes violentas no interior da população negra?


Outro importante dado revelado pelo Atlas da Violência é a escassez de informações referentes à população LGBTQIA+. A subnotificação dos números para além de esconder os perversos dados sobre a mortalidade violenta com esta população num dos países mais lgbtfóbicos do mundo, denotam ainda a omissão do Estado no levantamento de informações indispensáveis para construção de políticas públicas com o objetivo de assistir e assegurar a vida do grupo que já é penalizado e conduzido a péssimas condições de sobrevivência em decorrência, por exemplo, da completa ausência de oportunidades e acesso ao mercado de trabalho formal.


Os dados do Atlas da Violência denunciam mais uma vez a atuação genocida do Estado que age por meio de governos racistas, mantenedores de tradições seculares de extermínio da população negra como forma de se perpetuarem no poder, negando a existência não só do racismo estrutural, mas também de uma branquitude que permanece cercada de privilégios em detrimento de uma maioria pobre e preta que padece pela violência, desemprego, miséria e fome.

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