Docentes denunciam constrangimentos e descaso durante visitas realizadas pela SAEB para inspeção de campos de práticas
05/11/2021
Denúncia ocorreu em assembleia realizada no dia 28 de setembro deste ano
A falta de compromisso
com melhores condições de trabalho para os/as docentes é uma prática recorrente
do governo Rui Costa e tem sido denunciada com frequência pela Adufs que age,
não apenas para apontar as situações, mas para encontrar alternativas
institucionais, políticas e jurídicas, com o objetivo de assegurar os direitos
dos/das docentes. A falta de pagamento do adicional de insalubridade é uma das
questões sobre a qual o sindicato, também através da Assessoria Jurídica, tem se
debruçado diante do total descaso do governo.
Na assembleia realizada no dia 28 de setembro, a Adufs recebeu uma denúncia sobre os
constrangimentos enfrentados por docentes do curso de Enfermagem durante
visitas para inspeção de campos de práticas realizadas por uma Junta Médica da
Secretaria de Administração do Estado da Bahia (SAEB). As visitas ocorreram no
dia 23 de setembro.
Para o professor Sélton
Diniz, que recebeu a visita no Centro de Saúde Especializado (CSE) Dr. Leonel
Coelho Leda, a forma hostil como toda a ação ocorreu é um total desrespeito com
o trabalho que vem sendo realizado pelos/pelas docentes mesmo diante de toda a
precarização da atividade, especialmente, neste momento de pandemia.
Segundo o relato do
professor, ainda no dia 17 de setembro a diretora do Departamento de Saúde
entrou em contato com seis docentes de Enfermagem informando que a visita
ocorreria no dia 23 do mesmo mês. Antes disso, para o dia 20 de setembro, por
iniciativa da Gerência de Recursos Humanos (GRH) da UEFS, foi agendada uma
reunião com o grupo de docentes para que fossem orientados/as sobre o processo
das visitas. Nesta ocasião, foi colocada como importante condicionalidade a
presença do/da docente no campo para a realização da visita. Este fator chamou
a atenção do professor, tendo em vista que ele afirma não ter conhecimento
sobre esta questão em outras visitas realizadas para colegas, até porque, todas
as informações necessárias sobre a atuação são detalhadas no processo, ainda na
fase inicial quando é elaborada a carta que justifica o trabalho insalubre.
Para o professor Sélton
Diniz, alguns questionamentos feitos pela equipe da SAEB em campo denotaram
total desconhecimento do detalhamento das atividades, como foi o caso de
perguntas sobre a carga horária e descrição da função. Além disso, perguntas
sobre o porquê de alguns docentes ainda não terem retornado às atividades
práticas se mostraram inconvenientes e desconexas com a resolução do Consepe
que dá autonomia para docentes justificarem o afastamento, se necessário. O
constrangimento não parou por aí. Em outros campos onde as visitas ocorreram, foram
feitas perguntas para estudantes e demais funcionários/as no local se de fato
conheciam os professores que estavam em campo, o que coloca sob suspeição não
apenas a atuação dos/das docentes, mas a conduta da coordenação dos
departamentos nas informações fornecidas no processo.
A visita no CSE durou
cerca de 20 minutos, entre perguntas e registros fotográficos. Representantes da
GRH também participaram e auxiliaram o docente na reafirmação sobre as
características insalubres do campo. O professor Sélton Diniz estava no serviço
de Hanseníase na chegada da equipe e relata com indignação a sua percepção de
que o processo possa não ser deferido diante da forma pouco empática como foi
realizada a visita, principalmente, neste momento de pandemia em que as
atividades ocorrem de maneira atípica, o que, na sua opinião, pode ser utilizado
como argumento contra os/as docentes ausentes. O desgaste do professor diante
da falta de reconhecimento e precarização da atividade é inevitável: "Eu que
trabalho com tuberculose, hanseníase, que são doenças transmissíveis ter
questionado o direito à insalubridade é surreal. Nós atuamos em diversos
serviços com infraestrutura precária, sendo expostos a todo momento e ainda
temos os nossos direitos questionados", afirma o professor que tem processo
aberto na UEFS há mais de dois anos.
A percepção de desconhecimento
dos representantes da SAEB quanto às atividades laborais dos docentes de
enfermagem durante a visita é compartilhada pela professora Bianca Araújo, que
recebeu a visita na Unidade de Saúde da Família (USF) Novo Horizonte: "Na minha
opinião a visita da SAEB foi realizada por pessoas que não conhecem a realidade
dos serviços de saúde e nem do trabalho docente, pois não sabiam o que era
realizado no serviço de saúde que eu trabalho", afirmou a professora que relata
ainda a tentativa de resumir as atividades desenvolvidas por parte da SAEB: "Um
dos responsáveis pela SAEB insistiu que eu confirmasse qual a atividade que eu
mais realizava e sugeriu que eram as consultas, enquanto desenvolvo várias
outras atividades com os alunos desde vacina, teste rápido, curativo, exame
preventivo do câncer de colo do útero, visita domiciliar, entre outras
atividades", disse.
A professora Bianca Araújo
relata também o desconhecimento de informações básicas contidas no processo
pela equipe da SAEB: "Cumpro 16 horas de encargo de ensino, que é a carga
horária máxima de um professor com carga horária de 40 horas, e um dos
representantes ficou sem entender porque cumpro 16 horas em campo de estágio e
não as 40 horas".
Com processo aberto desde
2018 quando se tornou efetiva, a expectativa da professora por uma visita que
pudesse garantir o seu direito até o momento se resume a incerteza: "Quando fui
avisada que a visita seria realizada imaginei que os responsáveis iam querer
conhecer todo a instituição de saúde que nós desenvolvemos as práticas docentes
uma vez que demonstram as nossas condições de trabalho, mas não foi isso que
aconteceu. Nem todos os cômodos foram visitados, inclusive alguns que usamos
muito nas nossas atividades com alunos", disse.
Responsabilidade da UEFS
Os relatos de demora na
tramitação dos processos ainda na UEFS são recorrentes. O próprio professor
Sélton afirmou que o seu processo já esteve parado por quase um ano dentro da
própria Universidade, o que pode mostrar que a instituição tem colaborado com a
demora nos processos.
Após questionamentos
feitos recentemente pela Diretoria do sindicato foi
constatada a morosidade da Administração. Diante do longo tempo da SAEB na
tramitação de processos, a Adufs judicializou ações e teve resultado liminar
favorável do Tribunal de Justiça (TJ) que, além de reconhecer a demora,
concedeu prazo para que os processos sejam finalizados.
No entanto, através da
Procuradoria Geral do Estado (PGE), a SAEB informou que não poderia julgar os
processos porque estes demandam perícia que devem ser realizadas pela UEFS. Questionada
sobre os laudos, a Administração afirmou que todos já estavam com a SAEB e que
não havia qualquer solicitação de novos laudos. Esta informação foi
posteriormente contestada com a notificação, datada de agosto, que foi enviada
pela SAEB com solicitação de Laudo Técnico de Identificação dos Riscos Ambientais. A
reunião com a diretoria foi realizada no mês de setembro, mais de um mês após o
envio da notificação que a Reitoria afirmou não ter conhecimento. O prazo
estipulado pela PGE para manifestação da Reitoria sobre o Laudo Técnico venceu no dia 04 de setembro sem qualquer manifestação da instituição.
O professor Sélton Diniz, que é um dos seis
docentes que tiveram resultado liminar favorável para o seu processo, em
diálogo com funcionária da GRH foi informado de que a visita da SAEB neste
momento ocorreu como efeito da ação movida pela Adufs, através de sua
Assessoria Jurídica. Solicitamos à GRH, a confirmação desta informação e mais
dados sobre a visita como, por exemplo, o que a Administração teria feito em
favor dos/das docentes para impedir constrangimentos e reforçar o caráter
atípico das atividades durante a pandemia, mas até a data desta publicação não
tivemos retorno.
Embora o professor tenha relatado a
excepcionalidade do tratamento fornecido pelas representantes da GRH sobre o
caso em específico; é importante enfatizar que a UEFS tem sido negligente com a
situação dos/das docentes. É evidente que não há qualquer boa vontade e
compromisso legal por parte da gestão de Rui Costa com a garantia de direitos
para a categoria e respeito à autonomia universitária. Ciente disso, o Fórum
das ADs junto ao Sindicato Nacional já levou a denúncia até mesmo à Organização
Internacional do Trabalho (OIT) em 2018. Nos surpreende, no entanto, que a
gestão da universidade compactue com tais ações ao não tornar procedimento
padrão a pronta e empenhada assistência aos docentes em todo e qualquer
processo que vise o asseguramento de direitos e que, além disso, aja em
consonância com o governo ao tornar os processos ainda mais lentos, auxiliando
na precarização da atividade docente e ampliando os prejuízos acumulados ao
longo de anos.
Para o assessor jurídico da Adufs, Danilo Souza
Ribeiro, o procedimento foi inadequado: "Se as visitas ocorreram de fato em
decorrência dos resultados favoráveis das judicializações, houve uma total incorreção
do procedimento. Isso porque, o laudo deveria ser feito em todos os processos
de forma organizada e institucionalizada, não de maneira pontual e apenas em
cumprimento à determinação judicial. Esta postura reforça ainda mais a total
falta de interesse da Administração em fazer o que é obrigado por lei, agindo
apenas quando a justiça determina. Além disso, defendemos que o laudo deve ser
feito anterior ao processo com a elaboração de um mapeamento de risco em cada
unidade da UEFS. Fazer isso em cada processo aberto é ineficiente, demorado e
só prejudica o servidor", afirma.
A situação da professora Bianca Araújo inclusive
se enquadra nesta situação. Enquanto professora substituta ela recebia o
adicional de insalubridade, após a sua efetivação no final de 2018 deu entrada
no processo, mas jamais voltou a receber: "Se o laudo fosse institucional, a
professora continuaria recebendo por trabalhar naquele local. Não justifica um
novo requerimento, um novo laudo, para continuar recebendo o adicional por
atuação na mesma função. Estes entraves burocráticos existem justamente para
dificultar o processo e não garantir o pagamento devido", explica o advogado.
Enquanto sindicato, a Adufs permanece firme na
defesa irrestrita de melhores condições de trabalho para os/as docentes. Repudiamos
quaisquer tentativas de intimidação e constrangimento, nos colocando à
disposição da categoria para também buscar os meios jurídicos para assegurar
que a autonomia universitária e suas resoluções internas sejam respeitadas.
A orientação continua sendo a de judicializar as
ações, principalmente, daqueles processos que estão parados na Saeb. Isso
porque, Danilo Souza Ribeiro explica que os processos ajuizados contra a Saeb,
são também contra a Universidade, mas, como integra o secretário de
Administração, a competência sai da primeira instância e fica sujeita ao TJ que
define de quem são as responsabilidades de forma mais rápida. Este tem sido o
caminho exitoso adotado pela Assessoria Jurídica que tem garantido resultados
favoráveis para docentes da UEFS.
Os/as professores/as que estiverem com seus
processos de insalubridade pendentes de decisão há mais de seis meses devem
procurar a assessoria jurídica imediatamente.
Os plantões do advogado Danilo Souza Ribeiro
permanecem ocorrendo no formato virtual, todas as quartas-feiras, das 14h às 16h,
mediante agendamento prévio feito pela Secretaria da Adufs através do e-mail [email protected] ou por telefone (75)
98864-7205.