Preocupação com retorno presencial das escolas aumenta com a crise no transporte público feirense
03/11/2021
Volta das atividades presenciais também piora o caos no transporte público
Em decreto publicado na última semana,
a prefeitura de Feira de Santana autorizou a retomada da modalidade de aulas
100% presenciais nas instituições públicas e privadas. Enquanto para as escolas
privadas, o decreto já passa a valer desde o último dia 29 de outubro, nas
públicas, o modelo pode ser retomado a partir do dia 16 de novembro. Mais uma
vez, a decisão foi tomada de forma precipitada e sem diálogo com a categoria
docente, que vê a decisão com preocupação.
Com o avanço da vacinação, os casos graves têm diminuído
substancialmente em todo o país. Apesar disso, especialistas insistem na
importância da manutenção de regras sanitárias para barrar a transmissão do
vírus que ainda está em circulação, tendo em vista que a vacinação não impede a
infecção mesmo entre os/as vacinados/as. É evidente que já é preciso avançar
nas estratégias para a retomada das atividades presenciais com 100% da
capacidade, mas a decisão unilateral sem levar em consideração as necessidades
dos/das docentes, funcionários/as e estudantes só mostra mais
irresponsabilidade na condução da pandemia.
As escolas não estão preparadas. Não há infraestrutura
adequada para receber a totalidade dos/das estudantes sem formar aglomerações,
não há espaços para higienização adequados, nem um plano detalhado que aponte
para condições sanitárias seguras para a realização das atividades. Apenas a
previsão de suspensão de atividades presenciais nos casos de aumento de curva
de contágio constatada através de exames não é suficiente para garantir
segurança no exercício da profissão.
Nas escolas municipais, a situação se torna ainda mais
preocupante em decorrência da idade das crianças, menores de 12 anos, que não
têm autorização para serem vacinadas no país. Existe o temor de que medidas
irresponsáveis como esta possam causar um retrocesso em relação a casos de contaminação
e mortes, aumentando ainda mais os prejuízos já verificados até então.
Além dos riscos de contaminação no ambiente escolar, o
retorno das atividades presenciais tende a ampliar ainda mais outro grave
problema que a população feirense vem enfrentando, graças à gestão incompetente
do governo Colbert Martins: o caos no transporte público. O aumento da demanda de passageiros nos transportes deve
piorar as condições sanitárias dentro dos ônibus superlotados que transitam
pelas ruas de Feira de Santana. Esta que já é uma queixa antiga dos moradores
do município, tem se tornado uma questão de saúde pública desde que a frota foi
reduzida no primeiro semestre de 2020 por conta da ampliação do isolamento
social. Nos últimos dias, a situação se tornou insustentável.
Protestos dos/das moradores/as da zona
rural
A manifestação de trabalhadores e
trabalhadoras rurais que acamparam em frente à garagem da empresa Rosa para
impedir a circulação dos ônibus ocorrida na última semana é apenas mais um
capítulo do caos no transporte público vivido em Feira de Santana. O protesto
dos/das trabalhadores/as se deu após sucessivas situações de abandono e descaso
do poder público que não garante o acesso pleno à cidade. A legítima
mobilização durou três dias e foi encerrada na última sexta-feira (30) por
decisão em assembleia, após negociação com a prefeitura que garantiu a retomada
da circulação do transporte na região.
Entenda a gravidade da situação
Duas empresas de ônibus
são responsáveis pelo transporte público em Feira de Santana, a Rosa e a São
João. Desde maio do ano passado, quatro linhas rurais de responsabilidade da
Rosa foram abandonadas e num contrato entre prefeitura e as duas empresas em
atuação, estas linhas foram passadas para a São João. Ocorre que na última
semana, alegando descumprimento de contrato pela prefeitura, a São João também
abandonou as linhas deixando os moradores da zona rural sem transporte para a
cidade, desde o último dia 23. As linhas são a 50 (São José/Praça do Tropeiro
via Carro Quebrado), 52 (Candeia Grossa/Praça do Tropeiro), 123 (São José/Faz. Morro/Terminal
Norte) e 124 (Santa Quitéria/Adelba/Terminal Norte). Além disso, os/as
trabalhadores/as da Rosa paralisaram, por um dia, as atividades alegando total
precarização das relações trabalhistas, com salários atrasados e falta de
reajustes há dois anos. Após o pagamento, voltaram às ruas, mas sem operar nas
quatro linhas da zona rural.
Numa operação tapa-buraco, assumindo total descontrole
com a situação, os serviços foram repassados emergencialmente para as vans e
micro-ônibus do Serviço de Transporte Alternativo Complementar (STPAC), já que
a Rosa se negou a cumprir decisão judicial de retorno imediato para operação
das linhas e ainda pediu rescisão contratual para encerrar as atividades no
município. Acontece que os conhecidos "ligeirinhos", além de não oferecer
capacidade adequada para o quantitativo de passageiros/as, não aceitam o cartão
de transporte Via Feira como forma de pagamento. Então, além de ter a segurança
comprometida, os/as usuários/as dos serviços ainda sofrem com o aumento das
despesas num momento de grave crise econômica e social no país.
Diante da situação, mesmo sem uma liderança definida,
usuários/as do serviço que se viram sem condições de realizar suas atividades
cotidianas por falta de transporte bloquearam a saída da garagem da empresa
Rosa e deram início à manifestação no dia 27 de outubro, que durou até a última
sexta (30).
Apesar do retorno da circulação dos ônibus, permanecem as queixas da
população sobre superlotação, atraso e falta de linhas. Se esta é a
situação sem o retorno completo das atividades presenciais das escolas, imagine
com a demanda de estudantes nas ruas. O prefeito Colbert Martins age de forma
irresponsável e negligente com a população feirense, sem realizar um
planejamento mínimo para ações que comprometem diretamente a sobrevivência de
cidadãos e cidadãs.
A Adufs manifesta seu total apoio às reivindicações da
população rural de Feira de Santana pelo acesso pleno à cidade com transporte
público de qualidade; bem como reforça seu apoio irrestrito às manifestações
dos/das trabalhadores/as da Educação em defesa das condições sanitárias para
garantir segurança e a sobrevivência de docentes, funcionários/as e estudantes.