Diretoria da Adufs entrega cestas básicas à população pauperizada

27/10/2021

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Ainda que alimentação, moradia e outros direitos sociais sejam assegurados na Constituição Federal de 1988, a história da política brasileira é marcada por um passivo na provisão de todos estes itens à população, principalmente à pauperizada. A Adufs, cuja luta sempre foi concomitante à dos demais trabalhadores que reivindicam comida, saúde, educação, entre outros direitos fundamentais, segue em defesa de uma sociedade justa e igualitária. Em conformidade com essa proposta, a diretoria distribuiu cestas básicas a moradores da Ocupação Quilombo Lucas da Feira, dos bairros Mangabeira e Conder, além de alguns terceirizados da Uefs. A entrega aconteceu na terça-feira (26).

 

"Sou mãe de cinco filhos e tenho cinco netos. Essa cesta veio em boa hora porque estou desempregada há três anos e alimentar todo mundo tem sido um sacrifício. É o gás que acaba, o pão falta, o feijão não dá... Agora, vou ter comida por mais sete dias", disse SAS, 44 anos, que tenta manter a família com poucos trabalhos como diarista.

 

As desigualdades sociais crescem de forma exponencial no Brasil, escancarando o atrelamento dos sucessivos governos federal, estaduais e municipais com os grandes empresários. Com a pandemia da Covid-19, a situação agravou-se ainda mais. Em se tratando da moradia, por exemplo, esse compromisso se materializa através da ausência de uma política habitacional social, juntamente com o apoio a projetos que atendem a especulação imobiliária. A Ocupação Quilombo Lucas da Feira, localizada a alguns metros da BR-116 Norte, é uma mostra de como a opção política dos gestores públicos deixa os mais pauperizados sem moradia ou em habitações precárias. Sem água encanada, luz e serviços públicos essenciais, como coleta de lixo, unidade de saúde, escola e pontos de ônibus, as 50 famílias que hoje vivem no local resistem em luta por uma vida digna.

 

"Precisamos de transporte público, escola para as crianças, urbanização e caminhão para pegar nosso lixo. Ando beirando a pista no sol quente ou na chuva até o bairro Feira VI para deixar meus três filhos no colégio. Contamos com a ajuda de vizinhos para receber correspondência porque não temos endereço. Já tivemos reuniões com a Prefeitura, candidatos vêm aqui nas eleições, mas muitos dos nossos pedidos ainda não foram atendidos", reivindica M S, 26, há sete anos na Ocupação Quilombo Lucas da Feira. A jovem mãe sustenta a família com o dinheiro das faxinas que raramente consegue fazer.

 

Aos 61 anos, dez deles dedicados à ocupação, N V conta que para usar o transporte coletivo anda até o bairro Novo Horizonte porque não há ponto de ônibus próximo ao local onde mora. "Também precisamos de quebra-molas por aqui. Muitas pessoas já foram atropeladas porque os carros passam com muita velocidade na pista", acrescenta o artesão e um dos primeiros moradores do local.

 

Para Álvaro Alves, diretor da Adufs, "uma moradia digna precisa de infraestrutura de serviços públicos e acesso aos benefícios produzidos pela cidade. O Estado precisa garantir esses direitos aos cidadãos, inclusive à população pauperizada, historicamente invisibilizada pelo poder público". A entrega das cestas básicas a moradores da Ocupação Quilombo Lucas da Feira e dos bairros Mangabeira e Conder integra o conjunto de ações da campanha de mídia do Fórum das ADs. A campanha foi lançada em agosto deste ano com o objetivo de valorizar a ciência e o trabalho dos docentes das universidades estaduais da Bahia. Leia mais sobre a campanha. 

 

Ocupação Quilombo Lucas da Feira

Segundo N V, em 2011, 87 famílias, entre mulheres, homens, idosos e crianças, ocuparam o terreno de uma antiga fábrica de leite, localizada às margens da BR-116 Norte, sentido o bairro Novo Horizonte, e deram início à ocupação urbana Quilombo Lucas da Feira. Naquele ano, ainda conforme RV, as famílias trabalharam alguns meses capinando o matagal existente e limpando o terreno para instalar os primeiros barracos de lona, todos em tamanho igualmente dividido. Anos depois, aos poucos e com muito sacrifício, vieram as casas de alvenaria, que até hoje seguem em construção.

 

Atualmente, a ocupação tem 55 famílias. A maioria das pessoas vive de trabalhos temporários, geralmente como pedreiro e catador de material reciclável. Em uma década de luta e resistência, a ocupação conquistou atendimento no Centro de Referência de Assistência Social (Cras), no posto de saúde e em uma escola localizada no bairro Feira VI. Mas, algumas pautas ainda estão pendentes de negociação com a Prefeitura, com destaque para o pedido de regularização fundiária e a garantia definitiva do terreno.


Veja mais fotos da entrega das cestas básicas no Facebook e no Instagram da Adufs. 

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