Feira de Santana completa 188 anos com grandes desafios para valorizar a educação pública e a atividade docente no município
14/09/2021
No dia 18 de setembro, o município de Feira de Santana completa 188 anos de
sua emancipação político-administrativa, com uma população estimada em quase
620 mil habitantes. O Dia da Cidade, como é celebrado o aniversário feirense, é
mais um convite à reflexão sobre o município, principalmente neste momento de
aprofundamento da crise humanitária e social enfrentada em todo o país, que submete
a sobrevivência de brasileiros e brasileiras a condições
indignas. Nos últimos meses, presenciamos com maior intensidade a realização de
mobilizações contrárias ao governo federal que estende suas críticas também à atuação dos governos estadual e municipal, por terem
se alinhado com o governo Bolsonaro numa prática autoritária e perversa em
relação aos serviços públicos e seus/suas servidores/as, com destaque para o
campo da Educação.
Considerada a 9º cidade
mais violenta do mundo, segundo o levantamento anual feito pela ONG Mexicana
Conselho Cidadão para Segurança Pública e Justiça Penal, uma das principais entidades internacionais no monitoramento de taxas de
crimes violentos, segurança pública, narcotráfico e políticas de governo, Feira
de Santana vê aumentar os crimes violentos, principalmente cometidos contra
jovens, na contramão da tendência de queda no cenário nacional. Enquanto a
juventude pobre e preta vem sendo exterminada cotidianamente com anuência dos
governos, a Educação, que deveria ser uma das principais impulsionadoras de uma
melhor qualidade de vida, ainda padece com políticas de sucateamento e
apadrinhamento, no âmbito municipal, sob denúncias ainda de cortes de salários
e total desrespeito à categoria docente.
Para o professor da
Educação Básica e do Ensino Superior, na Universidade Estadual de Feira de
Santana (UEFS), Edson do Espírito Santo, a forma como os poderes lidam com
discentes e docentes expõe a necessidade permanente de mobilização. A questão
salarial para professores e professoras é uma das questões destacadas pelo
professor: "A Rede Municipal de Feira de Santana na década de 1990 tinha um dos
melhores planos de cargos e salários do país. Mas, ao longo de duas décadas
ocorreu uma gradativa dilapidação. Prova disso é a dificuldade de cumprimento
da Lei 11738/2008, que assegura a reserva de 1/3 carga horária para
planejamento e a melhoria salarial, tendo como ponto de partida o cumprimento
do piso salarial", afirma o professor.
Para Edson do Espírito
Santo, a pandemia expôs ainda mais a situação precária das instituições de
ensino que sofrem não apenas com problemas estruturais, mas com a precarização
dos serviços oferecidos por meio de profissionais,
muitas vezes, sem qualificação e trabalhando em
condições inadequadas: "Ainda existe uma
grande quantidade de postos de trabalho assegurados por meio de indicações de
vereadores, através do que eles denominaram cooperativas, principalmente nos cargos
de serviços gerais. Nas redes estadual e municipal, o que se percebe é uma
infraestrutura escolar que não atende às necessidades de estudo e trabalho; prova disso foi a forma como a pandemia expôs as
fragilidades destas instituições. Na Rede Municipal de Ensino, o agravo foi
maior por conta da incorporação da carga horária de professores que estavam em
vaga real e a suspensão do pagamento do desdobramento da carga horária destes
professores (docentes que trabalham no regime de
40 horas semanais, mas que só estão efetivados no regime de 20 horas semanais)
e gratificação de deslocamento aos professores que trabalham no Distrito. Isso
agravou a situação destes professores com a queda significativa dos rendimentos",
enfatiza.
Entre as demandas mais
urgentes neste setor, o professor destaca a necessidade de cumprimento dos
acordos firmados através, por exemplo, do Plano Municipal de Educação elaborado
durante a Conferência Municipal de Educação, em 2015, que conta com um
planejamento estratégico para investimentos nas instituições públicas de
ensino: "Se grande parte deste Plano Municipal de Educação fosse cumprido, já
teríamos uma melhora significativa das instituições escolares, o aumento de
creches em tempo integral e creches noturnas, a manutenção e ampliação de
pontos significativos do planos de cargos e salários de professores e outros
profissionais do magistério, a ampliação de concurso público na Rede Municipal
de Ensino para professores e outros profissionais da educação".
Há também as
responsabilidades do governo federal e estadual com as instituições de ensino
superior que acarretam ainda mais problemas para o quadro da educação no
município. Feira de Santana possui além da UEFS, a Universidade Federal do
Recôncavo da Bahia (UFRB) que, como destaca o professor, cumprem importantes funções sociais no
município, mas que precisam de maiores investimentos para ampliação e maior
qualificação das atividades: "No ensino superior, a luta por maiores
investimentos nas instituições públicas para a criação de novos cursos e
desenvolvimento da pesquisa e extensão e, especialmente, a ampliação da
infraestrutura da UFRB se colocam como necessários para
o desenvolvimento da educação no município de Feira de Santana que seja próximo
da importância deste município no Estado da Bahia" destaca Edson do Espírito
Santo.