Aula Magna da UEFS é marcada por falas em defesa da democracia, da ciência e das universidades
17/08/2021
O diretor da Adufs, Elson Moura, esteve na mesa de abertura
Na manhã desta terça (17) foi realizada a
Aula Magna da Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS) com a presença
do palestrante Pedro Hallal, ex-reitor da Universidade Federal de Pelotas
(Ufpel) e coordenador da maior pesquisa epidemiológica sobre coronavírus no
Brasil, o estudo de Evolução da Prevalência de Infecção por Covid-19
(Epicovid). A mesa de abertura contou com o depoimento do reitor Evandro do
Nascimento e a vice-reitora Amali Mussi, do representante do Sindicato dos
Trabalhadores em Educação do Terceiro Grau do Estado da Bahia (Sintest/BA),
Luís Ricardo Andrade, do estudante de Letras, Erick Camões, representando o
Diretório Central dos Estudantes (DCE), além de um representante do governo
estadual. Mais uma vez o secretário de educação do Estado, Jerônimo Rodrigues,
evidenciou seu desprezo ao se ausentar da Aula Magna da universidade da qual
faz parte do corpo docente. O coordenador executivo de Programas e Projetos
Estratégicos da pasta, Marcius Gomes, foi o representante do governo. A Adufs
foi representada pelo diretor Elson Moura.
Importantes discussões foram suscitadas a
partir das falas que constituíram a mesa de abertura, sempre destacando a
importância da ciência e das instituições de ensino na construção do
conhecimento e na contribuição para a saída da pandemia, apesar do
reconhecimento do processo de sucateamento que as universidades vêm sofrendo
não apenas pelo governo federal, mas também estadual. A situação dos
estudantes, por exemplo, que tiveram auxílios de permanência cortados foi
abordada pelo representante do DCE, chamando atenção para o processo perverso
ao qual o governo estadual submete os estudantes em um momento de extrema
dificuldade financeira para manutenção das atividades e da sobrevivência.
O diretor da Adufs, professor Elson Moura,
demonstrou solidariedade com as vítimas diretas e indiretas da Covid-19 e
enfatizou que as ações do sindicato são guiadas pelo princípio da defesa da
vida. Com este alinhamento foi tomada a decisão em assembleia de manutenção das
atividades remotas, embora haja o reconhecimento de que as atividades da
universidade são essencialmente presenciais e apenas contingencialmente
remotas. "Professores e professoras decidiram pela continuidade das atividades
remotas e condicionaram o retorno às atividades presenciais a imunização
coletiva e as condições sanitárias seguras", afirmou.
O professor destacou ainda a responsabilidade do governo estadual pela
atual conjuntura: "O histórico estrangulamento orçamentário promovido pelo
governo do Estado da Bahia somado a um conjunto de ordem de serviços para
adquirir material e estrutura que contam com a morosidade do governo, indica
que o governo Rui Costa é diretamente responsável pelo não retorno das
atividades presenciais. E o sindicato junto com a sua categoria continuará em
luta", enfatizou Elson Moura.
O palestrante Pedro Hallal destacou que
vivemos um momento de exceção duplo; por um lado pela pandemia, por outro pelo
avanço autoritário negacionista no Brasil. Os impactos na saúde mental de
técnicos, estudantes e professores também foram destacados na palestra do
professor Hallal que apresentou números assustadores da pandemia no Brasil.
Segundo dados apresentados, a média de mortes por covid-19 no mundo é de 500
pessoas a cada milhão, já no Brasil, esse número vai a mais de 2000 por milhão.
"A pandemia causa este estrago no Brasil porque o governo é anti-ciência",
afirmou. Lembrou ainda que, a vacina só foi estimulada porque identificou que
cada vacina representa um voto a mais. Ao discurso negacionista, somado a ações
genocidas de abandono da população à sorte de fake News, o epidemiologista
credita assim a situação do país: "O governo brasileiro é responsável por mais
de 80% das mortes no Brasil", disse Hallal que utilizou os investimentos nas
Olímpiadas como forma de comparar ao processo vivido pela ciência no Brasil:
"Assim como não adianta investir em atleta olímpico só nas Olímpiadas, não
adianta investir em ciência somente durante a pandemia".
Pedro Hallal falou sobre a importância de se
discutir o retorno presencial levando em consideração as circunstâncias
epidemiológicas, com Transmissão abaixo de 0,7 e seguindo protocolos rígidos:
"Chegou o momento de falar em retorno. É
preciso enfrentar a pauta de retorno presencial assim que as condições
epidemiológicas permitirem". Hallal disse ainda que esta pandemia deixará como
resultado o destaque para a importância da comunicação científica como
fundamental para a organização em sociedade: Nós precisamos fazer ciência para
interferir na realidade. A gente tem que acabar com a ideia de que a pesquisa
epidemiológica não é para consumo imediato", disse ele. Neste sentido,
enfatizou ainda que a pesquisa transparente é necessária e urgente até para impedir
que em um cenário, como o enfrentado nesse momento, as fake News se sobreponham
aos estudos científicos.