Adufs emite Nota de Solidariedade em defesa de população cigana que sofre violência policial em Vitória da Conquista

20/07/2021

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Na última semana, o município de Vitória da Conquista vivenciou o aumento substancial de mortes da população cigana promovidas por integrantes da polícia militar. O conflito que teria sido iniciado com o embate entre dois policiais à paisana e integrantes de uma família cigana no distrito de Zé Gonçalves e resultou na morte imediata dos dois policiais e de dois integrantes da família, no último dia 13 de julho, já soma números assustadores. Entre os dias 13 e 15 de julho já ocorreu a morte de seis ciganos pela polícia militar, 15 ciganos baleados, diversas casas invadidas e carros queimados. As ações vêm sendo denunciadas por organizações. Esse genocídio está sendo denunciado por entidades representativas dos povos ciganos, pesquisadores e militantes ciganos e não ciganos.

Confira a Nota de Solidariedade da Adufs.

 

As múltiplas violências contra a população cigana fazem parte de um processo histórico de marginalização e exclusão que começa na Índia, a partir da dispersão deste povo por não estar incluído no sistema de castas e ser considerado sem nenhum valor. O professor da Uefs, Jucelho Dantas, que é cigano de origem Calon, explica que os povos ciganos são diversos e divididos em três grandes grupos: Rom, Calon e Sinti, sendo que na Bahia a maioria absoluta de ciganos fazem parte do grupo Calon, que foi o grupo pioneiro a chegar no Brasil, por volta de 1574, já que a política colonialista de Portugal enviava para as colônias aqueles considerados intrusos no país.

 

"O processo de preconceito criado em torno dos ciganos não é recente. Eles já saíram da Índia carregados de estigmas e por onde passaram carregaram a pecha de vadios e criminosos. Se o tratamento dispensado pela polícia à população em geral é de hostilidade, com os ciganos, então, que até pouco tempo não tinham uma noção de autodefesa e direitos humanos assegurados, aceitavam a violência sem muita resistência".

 

Segundo o professor Jucelho Dantas, somente a partir dos anos 2000 é que há um maior processo de conscientização por parte da população cigana acerca de seus direitos que culminam em maior resistência e denúncias às instituições públicas de ações truculentas promovidas pelas polícias em geral.

 

No caso específico sobre a situação de Vitória da Conquista, o professor Jucelho afirma que as informações ainda distorcidas porque a maior parte do que vem sendo publicado é por meio das assessorias das polícias que sempre colocam os ciganos em posição de criminosos para justificar os atos de truculência. Há denúncias de que na noite de ontem (18), policiais invadiram acampamentos de ciganos nos municípios de Itambé e Itapetinga e agrediram moradores à procura de foragidos. O processo de perseguição policial e tratamento desumano à população cigana não é recente.

 

"O Estado da Bahia adota um modus operandi de truculência contra os ciganos e constroem uma narrativa de culpabilização do grupo. Neste caso de Vitória da Conquista, já morreram 4 ciganos, um ferido custodiado e outros seis estão sendo procurados, sendo que são todos da mesma família, todos irmãos, filhos do senhor que está baleado. A sede de vingança da polícia é muito grande; eles estão barbarizando nos locais onde chegam, influenciando inclusive na forma como policiais de outras localidades abordam os ciganos. E o pior é que até o momento o poder público estadual e federal não tomou nenhuma previdência. O governador faz vistas grossas, o secretário de segurança pública já foi acionado, a Sepromi, a Secretaria de Direitos Humanos, a Procuradoria da República, o Ministério Público estadual e federal, mas, até agora, a polícia continua tentando caçar os ciganos como se fossem animais", afirma o professor.

 

A Adufs se solidariza com os familiares e amigos de todas as vítimas dos conflitos em Vitória da Conquista, sejam ciganos ou policiais, e manifesta seu total repúdio às atrocidades que vem sendo cometidas pela força policial, compreendendo que estas fazem parte de um processo histórico de criminalização dos povos ciganos e de uma segurança pública pautada na violência brutal como forma de legitimação da força e manutenção do status quo que pune severamente minorias para assegurar privilégios e poder a determinados grupos sociais.

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