Situação crítica dos trabalhadores e trabalhadoras na pandemia exige organização coletiva de classe urgente

04/05/2021

No último sábado (1), celebramos o Dia de Luta Internacional da Classe Trabalhadora. Especialmente neste ano, no segundo e mais letal ano da pandemia no Brasil, trabalhadores e trabalhadoras enfrentam ainda mais problemas diante de um governo que aprova projetos e reformas com o objetivo de precarizar ainda mais as relações trabalhistas e retirar direitos da classe trabalhadora. O primeiro de maio de 2021 foi marcado por protestos em todo país, não apenas em defesa dos empregos, mas contra às demissões, a favor do auxílio emergencial com valor mínimo de R$ 600 para garantia mínima de sobrevivência, pela vacinação em massa e em defesa da vida. A amplitude das pautas reflete a grave conjuntura atual.

Entre dezembro de 2020 e janeiro de 2021, o Brasil chegou a um total de 14,4 milhões de desempregados. É mais um recorde da série história iniciada em 2012, com um aumento de 400 mil pessoas a mais em relação ao último trimestre. O levantamento feito pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) aponta ainda que o Brasil chegou a 14º posição no ranking de países com maior taxa de desemprego, ficando atrás de países como Colômbia e Peru. A perspectiva é que o crescimento do desemprego ainda avance neste ano, na contramão da taxa média global que apresenta tendência de recuo.

O total de desalentados, grupo que já desistiu de buscar o emprego formal, foi a 6 milhões. Segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad) Contínua, eles representam 5,6% da força de trabalho. Entre estes, a informalidade aparece como única alternativa para produzir o sustento, o que é representativo da ampliação do quadro de precarização das condições trabalhistas. Na análise do economista e professor da Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS), Antônio Rosevaldo Ferreira, os impactos provocados pela pandemia devem ser analisados na conjuntura de um processo de crises que já vinha comprometendo a sobrevivência digna dos trabalhadores e trabalhadoras: “O mundo do trabalho já vinha sofrendo com a perda de postos para a robotização e o risco da inteligência artificial e via a crise sendo acirrada através da “uberizacão” do trabalho. Os dados do Cadastro Geral de Desempregados (Caged) nos permitem observar a troca do emprego com carteira assinada pelo trabalhador e trabalhadora sem direitos legais. O fechamento de pequenos negócios na pandemia, vai pressionar ainda mais o mercado de trabalho, derrubando os salários”, afirma.

Enquanto os empregados somam pouco mais de 86 milhões, os excluídos e subutilizados já somam 76,377 milhões. Entre os trabalhadores jovens, de 18 a 24 anos, o impacto da pandemia é ainda maior com aumento de 29,8%. O Nordeste continua puxando a maior taxa de desemprego, com aumento de 13,6% para 17,2%. Em Feira de Santana, a situação para muitos trabalhadores e trabalhadoras é desoladora, principalmente, em decorrência da gestão perversa do governo municipal que retirou direitos dos ainda menos favorecidos ao expulsá-los de seus postos de trabalho sem lhes oferecer uma solução adequada para garantir o sustento de suas famílias.

Feira de Santana

Num processo de gentrificação urbana que consiste, entre outras características, no sistema de reorganização espacial que substitui indivíduos de determinadas tipos, classes e estilos culturais, promovendo uma espécie de “limpeza urbana”, trabalhadores e trabalhadoras informais foram removidos do centro da cidade sem que um planejamento adequado fosse realizado não apenas para oferecer-lhes condições de trabalho viáveis, mas também para não descaracterizar a cultura do município que emergiu a partir da concentração de vendedores em feira. Não se questiona a necessidade de organização para melhor acomodação de profissionais, transeuntes e veículos; a questão é a forma unilateral, perversa e desfavorável à classe trabalhadora contra a qual as ações foram executadas. Segundo o professor Antônio Rosevaldo, a situação dos trabalhadores e trabalhadoras nesse 2021 é ainda pior que no ano passado, quando as remoções tiveram início: “Existem muitos passando fome com o fim do auxílio emergencial e a inflação dos alimentos que jogou os preços da subsistência lá pra cima. A feira que um trabalhador informal fazia em fevereiro de 2020, ele não consegue mais fazer. Tiraram os filhos das escolas e estão sem planos de saúde. No Shopping Popular, os que foram relocados, não conseguem vender seus produtos e estão sendo ameaçados de despejo, sem a rua pra vender e sem o ponto no Shopping Popular. A atividade de ambulante sofre com a sazonalidade das vendas e em meses de baixo faturamento, não conseguem honrar seus compromissos”, explica.

O mundo do trabalho em Feira é amplamente prejudicado na pandemia não apenas pelas perversas ações da gestão em relação a remoção dos informais, mas também pela incapacidade deliberada do governo municipal, alinhado com o governo genocida federal, em oferecer melhores condições de trabalho para proteger os profissionais da contaminação pelo Covid-19. Entre as mais de 600 vidas perdidas pelo novo coronavírus, estão diversos profissionais emblemáticos que faziam parte da cultura de vendas de ruas. O professor Antônio Rosevaldo, com tristeza, destaca alguns desses nomes que fazem parte da maioria da população pobre obrigada a enfrentar o vírus cotidianamente nas ruas e ônibus lotados:

“Feira perdeu MTF que frequentava todas as seções da câmara de Vereadores, ia em quase todos atos de rua. Perdeu Caculé, que era uma figura popular vendendo artigos como patapata e afins. Todos farão falta na cena urbana, mas a maior perda pelo simbolismo, foi de Eliel da Bala de Gengibre. Um jovem de 35 anos, cego, que obrigado a sair de casa para disputar o ganha pão de sustento de sua família, contraiu o vírus e veio a óbito. Como ele, centenas de trabalhadores formais. Essa semana perdi um vizinho que era autônomo. Estes são os mais atingidos, a população pobre, parda e preta são as pessoas que mais têm sofrido. Enfim, a classe trabalhadora, obrigada a embarcar em ônibus lotados, diariamente se expõe à contaminação, sim; infelizmente as sequelas ficarão como marcas indeléveis do desgoverno nas três esferas, federal, estadual e municipal”.

Os protestos nesse primeiro de maio foram mais do que a reivindicação pelos direitos dos trabalhadores e trabalhadoras, mas representaram o grito abafado de tantas vidas perdidas que se acumulam, advindas das camadas populares, formadas em maioria por sujeitos pobres e pretos. As péssimas condições de trabalho oferecidas aos profissionais brasileiros são o retrato de um governo que desde o primeiro mês no poder evidenciou seu desprezo pela classe trabalhadora. Uma gestão formada por figuras caricatas como o ministro da Economia, Paulo Guedes, que se acreditava viver apenas nos palcos de comédia repulsiva, que lamenta a longevidade dos pobres, culpabiliza as empregadas domésticas que vão à Disney pela alta do dólar e repudia os filhos de porteiros aprovados em universidades públicas.

Sem organização na luta e fortalecimento do senso de coletividade dentro da classe trabalhadora nos seus mais variados setores, a história se repetirá como tragédia, trazendo de volta os capítulos mais nefastos em que liberdade, democracia e direitos não passavam de um sonho difícil de ser alcançado.
 

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