Adoecimento de docentes da UEFS aumentou durante a pandemia, aponta pesquisa realizada pelo Nepi em parceria com a Adufs

15/12/2020

Durante live realizada pela Adufs na última semana foram discutidos os impactos da pandemia no trabalho docente, a intensificação do processo de precarização da atividade e a destruição das instituições públicas. Os palestrantes foram a professora Tânia Araújo e o professor Adroaldo Silva, ambos docentes da Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS), lotados no Departamento de Saúde (DSAU). A professora Tânia Araújo, é coordenadora do Núcleo de Epidemiologia da UEFS (Nepi). Já o professor Adroaldo Oliveira, é membro do Grupo de Trabalho Seguridade Social e Assuntos de Aposentadoria (Gtssa) da Adufs e coordenador do Fórum Popular de Saúde de Feira de Santana. Clique aqui para assistir à gravação da live na íntegra.

O debate teve início com a professora Tânia Araújo, apresentando dados da pesquisa Trabalho Docente e Saúde em Tempos de Pandemia (COVID-19) ainda em andamento pelo Nepi com apoio da Adufs, que tem como objetivo caracterizar as mudanças no trabalho docente com a introdução de educação à distância e acompanhamento remoto, além de avaliar a situação de saúde docente. Na UEFS, até o momento, foram 377 questionários respondidos, em um universo de mais de 840 docentes; por isso, a professora solicita que mais docentes respondam o questionário para que, assim, seja possível obter resultados ainda mais compatíveis com a realidade da instituição. Clique para responder o questionário e colaborar com a pesquisa.

Dados da Pesquisa

Entre os dados obtidos, já é possível identificar que os (as) docentes, em sua maioria, concordam que este é um momento de grande pressão, sobrecarga e aumento de estresse em decorrência do aumento do trabalho e das condições adversas em que precisam ser realizados. Mais de 90% afirmaram estar desenvolvendo atividades online de participação em conferências, lives, reuniões e realização de aulas remotas. As ferramentas mais acessadas pelos (as) entrevistados são whatsapp e e-mails. Além disso, outras ferramentas que estão sendo utilizadas para o desenvolvimento das atividades são novas para mais de 60% dos (as) deles (as). Os desafios tecnológicos, com a necessidade de adaptação e aprendizado sobre plataformas digitais para a realização das funções laborais, ampliaram o tempo dedicado ao trabalho, comprometendo, assim, o período de lazer e descanso: “Dois aspectos que são cruciais para a saúde, são as áreas que têm sido mais comprometidas. O tempo que você teve que dedicar ao trabalho lhe tirou o tempo que você tinha para se dedicar a família, ou o tempo de descanso e repouso. À medida que você ocupa o tempo de descanso com o trabalho, um possível quadro de adoecimento pode ser agravado”, afirmou.

Outro dado preocupante, diz respeito ao impacto das atividades na qualidade do sono e, por consequência, na saúde mental. Para a maioria dos (as) entrevistados (as), a rotina de trabalho piorou a qualidade do sono durante a semana e nos fins de semana. A precarização do trabalho docente foi intensificada com a pandemia, mas as suas raízes estão nas políticas de sucateamento desenvolvidas ao longo de anos por governos que não priorizaram a educação pública.

O professor Adroaldo Silva em sua explanação ressaltou que este processo de penalização dos (as) trabalhadores (as) como um todo faz parte do desenvolvimento do sistema capitalista e exige a mobilização da categoria contra os retrocessos. A cartilha do Andes-SN Projeto do Capital para Educação: o ensino remoto e o desmonte do trabalho docente, volume 4 (link), foi uma das leituras críticas recomendadas pelo professor direcionada à toda comunidade acadêmica para ampliar a reflexão sobre o desmonte da educação pública.

Adroaldo Silva destacou ainda como o Ensino à Distância, tanto na forma quanto no conteúdo, é uma ferramenta que auxilia no processo de precarização e privatização da educação. Privatização na medida em que abre o mercado para grandes empresários do capital que atuam através da construção de plataformas digitais, materiais didáticos e vendas de cursos; e precarização quando empobrece o processo educativo e intensifica a exploração do trabalhador docente.

A defesa do sistema público de saúde, que é uma das principais defesas de luta do GTSSA, também foi amplamente debatida pelo professor que trouxe marcos históricos da construção do SUS e mostrou ainda como a luta pela saúde e pela educação caminham juntas na defesa pelas instituições públicas. No contexto atual, a defesa da saúde é imprescindível para a sobrevivência dos (as) docentes.

Retorno das Atividades Presenciais só com a vacina

Apesar das constantes pressões para o retorno das atividades presenciais, isso se torna inviável sem a vacina por conta do alto risco que toda a comunidade seria submetida de ampliação em massa dos casos de contaminação e mortes. Enquanto países como o Reino Unido já deram início a vacinação e muitos outros já têm um plano de ação bem definido, o Brasil apresenta um plano excludente, que não consta sequer previsão de datas para a vacinação: “É necessário registrar que, enquanto vários países já começaram a comprar as vacinas antecipadamente para quando houver liberação, elas serem aplicadas de imediato, no Brasil o governo mente e falsifica informações para enganar a população. As informações apontam que até final de 2021 as vacinas não chegarão a toda a população. Temos o melhor programa de vacinação do mundo que é o Programa Nacional de Imunização e ao qual a vacina da Covid 19 era para ser incorporada objetivando imunizar a população”, afirma.

Adroaldo Silva chama atenção para instituições públicas como a Fiocruz, o Instituto Butantã e Farmanguinhos que deveriam estar na vanguarda da produção dos imunobiológicos para a vacina diante da competência e qualificação destes órgãos, mas afirma que elas estão sendo destruídas pelo governo federal. “O governo desenvolve uma política de destruição destes órgãos quando não tenta desviar as funções de outros, como é o caso da Anvisa”, afirma. Para o professor, a única alternativa é a luta; do contrário, o presidente continuará criando mentiras sem oferecer soluções à população.

Leia Também