Questão sanitária enfrenta a ganância do capital

31/03/2020

Poucas vezes a crueldade do sistema capitalista mostrou suas garras com tanta displicência quanto no discurso do presidente Jair Bolsonaro, transmitido ao vivo na noite do dia 24 de março. Analistas internacionais vislumbram uma ação orquestrada com o presidente dos EUA, Donald Trump. Outros, concluíram que o mandatário, percebendo a maior crise desse século se avizinhando, pretende ser retirado do cargo, ficando, assim, livre da responsabilidade.

O pronunciamento deixa explícito aquilo que já sabíamos há tempos: para o grande capital, 5.500 vidas humanas – previsão de mortes por coronavírus em 6 de abril, no Brasil, segundo a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) – valem menos do que um prejuízo financeiro. No País em que três bancos particulares aumentaram sua, já imensa taxa de lucro, em 13%, em um ano estagnado para o restante dos cidadãos; o governo libera R$ 68 milhões e anuncia que irá dispor de mais R$ 1,2 trilhão para “salvar” os bancos – o maior aporte de dinheiro público jamais realizado para salvar uma instituição – e anuncia a possibilidade de corte de salários enquanto durar a pandemia.

Já falta comida nas favelas. Os serviços de saúde já estão entrando em colapso nos rincões do Brasil; já não funcionam há tempos. A alegação de que parar a economia iria prejudicar ainda mais essa parcela da população chega a ser macabra, por ela já ser a ponta mais fraca do sistema, a que sofre antes as consequências de todos os problemas e, raramente, colhe os frutos das melhorias. Acostumada a ser ignorada pelas classes dominantes, nesta pandemia ela se vê frontalmente atacada.

Talvez o sistema capitalista não sobreviva sem uma imensa parcela de pessoas que são, simultaneamente, mão de obra barata e consumidores acríticos. Mas, quem quer pagar o preço de descobrir isso? Alguns, talvez, por não conseguir enxergar além de seus cofrinhos, não se importam com isso. A situação é nova, mas a atitude, conhecida. A novidade é que o Ministro da Economia, Paulo Guedes, está alinhado ao governo e aos que não se incomodam, para quem a vida humana vale menos do que um balanço financeiro momentaneamente negativo.

Fonte: ANDES-SN, com edição.

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