Uefs corre o risco de ter EAD nos cursos de graduação

16/03/2020

A oferta de componentes curriculares na modalidade a distância (EAD) nos cursos de graduação presencial na Uefs corre o risco de ser uma realidade, se depender da Administração da universidade. Uma minuta de resolução está sendo discutida na Câmara de Graduação e nos colegiados da instituição e, se aprovada, será encaminhada ao Conselho Superior de Ensino, Pesquisa e Extensão (Consepe) para apreciação. Para a diretoria da Adufs, no entanto, a implantação da educação EAD é uma porta de entrada para a precarização das condições de trabalho e estudo.

Na conjuntura atual, políticas neoliberais do governo federal estão criando um mercado educacional no país, com a mercantilização da educação. Os governos que servem à burguesia justificam a intervenção da iniciativa privada no setor sob o argumento de que é necessário, via educação pública, qualificar o trabalhador e melhorar a qualidade da mão de obra diante do avanço tecnológico. Uma das estratégias privatizantes, neste caso, é educação a distância. Apesar de o processo privatizante da educação ser defendido em nível federal, na Bahia, o governador Rui Costa segue a mesma política do governo Bolsonaro. Portanto, abrir as portas da instituição para o ensino na modalidade EAD é um modelo que não deve ser seguido.

A diretoria da Adufs entende que propor este debate daria ao governo do Estado a possibilidade de fragilizar a carreira, como evitar a realização de concurso público, por exemplo. Além disso, o ensino na modalidade a distância impede o debate em sala de aula, exclui a possibilidade de integração e da troca de experiências entre o docente e o aluno e impõe um modelo tecnicista ao processo de ensino-aprendizagem.

André Uzêda, diretor da Adufs, diz não compreender o porquê deste debate no momento atual. Para Uzêda, abrir as portas da Uefs para o ensino na modalidade EAD não é apenas uma resposta institucional à necessidade de adequar a instituição às novas tecnologias, mas permitir que o governo do estado consiga mexer na carreira docente, deteriorando as condições de trabalho, introduzindo a figura do tutor, aumentando a carga horária e criando a ilusão de que desta forma professores e gestores poderão repor a falta das vagas dos concursos para professores.

Proposta para a Uefs
Conforme a minuta, os componentes curriculares poderão ser ofertados integral ou parcialmente, desde que não ultrapasse 20% da carga horária total do curso. O trabalho será feito pelos servidores já lotados na Uefs, que também assumirão a função de tutores.

Conforme a Prograd, todo o processo será coordenado pelos colegiados. A exceção é para os cursos da área de saúde e as atividades práticas, que não terão componentes nesta modalidade.

Segundo João Danilo Batista, pró-reitor de Graduação da instituição, “a Uefs tem estrutura para implantar atividades didático-pedagógicas, utilizando mídias, tecnologias e ensino com intermediação tecnológica, a exemplo de carga horária em EAD nos cursos presenciais”. O docente acrescenta que as atividades de ensino utilizando o EAD, da mesma forma que a carga horária presencial, serão mapeadas e ficarão registradas no Plano Individual de Trabalho (PIT) de cada professor que tiver no componente curricular que ministra a carga horária em EAD.

Já o coordenador do Comitê de Educação a Distância e Tecnologias da Informação e Comunicação (CeAD/TIC) da Uefs, José Augusto Ramos, diz que “quando a universidade encaminha a regulamentação do uso dos 20% de EAD nos cursos presenciais, ela está querendo garantir o processo de modernização tanto do processo de ensino, quanto no processo de aprendizagem. Não dá para acreditar que em pleno século XXI, o professor deva dar aula somente dentro da sala, por meio apenas da exposição oral, usando o livro e o quadro”.

A diretoria da Adufs, no entanto, alerta aos professores e coordenadores de curso para o risco que esta proposta pode trazer. Em contextos como estes, por melhores que sejam as intenções da Administração Superior, uma proposta desta pode significar uma ação meramente racionalizadora de recursos humanos e financeiros, precarizadora em relação ao trabalho docente e trazer prejuízos à excelência acadêmica. Seguindo as diretrizes do Andes Sindicato Nacional, a diretoria da Adufs, como em outros momentos e agora mais ainda, se coloca contra a proposta. 

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