Para professores, o ambiente acadêmico é repressor

25/11/2019

As universidades públicas e particulares do país refletem o machismo, o racismo, o preconceito e a lgbtfobia presentes na sociedade. Esse é o entendimento dos palestrantes presentes à mesa da roda de conversa sobre o tema “Rebelião de Stonewall no cotidiano LGBTQI+: práticas de libertação e militância de gênero na universidade”. O evento ocorreu na quinta-feira (21), na Uefs.

Catarina Paraguaçu, professora da rede municipal e transgênero, falou sobre a necessidade de trazer para o ambiente acadêmico o debate sobre os corpos transgêneros, que são sexualizados e objetificados. “Sofro muito preconceito na Uefs e luto sempre para desconstruir a diminuição e o objetificação do meu corpo. Graças à Rebelião de Stonewall avançamos bastante, mas ainda temos muito a melhorar”, disse a docente, lembrando que a partir de 2020 a Uefs terá sistema de cotas para transexuais, travestis, transgêneros, quilombolas, ciganos e portadores de deficiência. “Isso é bom, mas essas pessoas precisam de políticas de permanência”, alertou.

Reforçando o raciocínio de Paraguaçu, a professora do ensino superior privado, Elizabeth Carvalho, falou um pouco sobre sua experiência nessas instituições e declarou que a educação acadêmica é repressora. “A academia tem a função social voltada à inclusão, à valorização da igualdade dos mais variados tipos culturais e à superação das desigualdades estabelecidas na sociedade. Por isso, a educação deve ser fonte minimizadora das diferenças entre gêneros. Porém, ainda vivemos em um ambiente repressor nas universidades”, disse, ao acrescentar que é necessário criar coletivos e grupos de estudos para oferecer resistência ao preconceito nas instituições.

Já o professor Murilo Arruda, da Uefs, pontuou que o discurso fascista do atual governo tem colaborado com a violência praticada contra os homossexuais. “Temos um presidente homofóbico e que assume publicamente preferir ter um filho morto a um filho homossexual. Declarações desse tipo acentuam o índice de violência de cunho homofóbico e preconceitos. A aversão a homossexuais resulta em muitos casos de assassinatos e cerceamento ao direito de se expressar e ser respeitado em sua orientação sexual”, avaliou. Antes da roda de conversa, o docente falou de forma breve sobre sua experiência no ambiente familiar a acadêmico.

Deybson Borba, diretor da Adufs, pontuou a necessidade de refletir sobre práticas de libertação no ambiente acadêmico e fora dele. O sindicalista também apresentou alguns dados estatísticos sobre a violência praticada no Brasil contra LGBTs. “Desde 2001, houve aumento significativo no número de mortes de LGBTs causadas pela discriminação. Naquele ano, registraram-se 130 óbitos. Em 2008, foram 187. Já em 2017, atingiu-se o número recorde de 445 mortes. No ano de 2018 foram registradas 420 mortes por homicídio ou suicídio decorrente da discriminação”, disse.

Após a toda de conversa houve a apresentação artística de Ariel Castelly e uma confraternização. O evento foi organizado pelo Grupo de Trabalho Gênero e Diversidade Sexual da Adufs (GTPCEGDS), Prefeitura Municipal de Feira de Santana, Divisão de promoção dos Direitos das Minorias e pelo Núcleo Interdisciplinar de Estudos sobre Mulher e Relação de Gênero da Uefs (Mulieribus).  

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