Suspensão das atividades na creche traz prejuízos para as crianças e preocupação aos pais

05/07/2017

Hoje, minha filha fica um turno em uma creche particular indicada por um conhecido. Foi a que eu pude pagar, pois é difícil encontrar uma com preço acessível e que ofereça um bom serviço. Lá, ela passa a maior parte do tempo assistindo TV, pois não existe estrutura adequada. Não me sinto totalmente segura em deixá-la no local, mas não tive outra opção porque precisava trabalhar. Ainda assim, tenho de sair mais cedo do serviço para pegá-la no término do turno dela. Meus dias têm sido de total angústia”, lamenta, chorosa, a servidora técnica Jene Márcia Coelho França, lotada no Departamento de Física da Uefs.

A situação da servidora soma-se à dos outros 78 pais que, atualmente, têm filhos na creche da Uefs. A perda pedagógica para as crianças, que não mais dispõem de acompanhamento adequado para o desenvolvimento das atividades e de uma rotina regular de aprendizado, bem como a alteração no ambiente doméstico familiar, têm trazido grandes transtornos aos envolvidos. A situação, que forçou os pais a readequarem as tarefas do dia-a-dia, é ainda mais difícil para as mulheres, que geralmente é mais sobrecarregada com a tarefa de cuidar dos menores.

“Minha filha tem frequentado um espaço recreativo duas vezes por semana. Fiz essa opção porque as creches que oferecem bons serviços exigem a compra de materiais, livros, fardas, além do pagamento da mensalidade. Ela fica mais tempo em casa do que antes. Por conta do tempo que uso para cuidar dela, as atividades da pesquisa e da extensão foram secundarizadas porque tive de priorizar o ensino”, relatou, também preocupada, a professora Gizelly Braga Pires, do Departamento de Saúde (Dsau).

A relação entre o processo de sucateamento do setor público e a situação na unidade infantil, que não funciona nas condições ideais, foi ressaltada pela estudante do curso de Pedagogia, Marcela Prest. “A creche, como parte da Uefs, é penalizada com a política do governo estadual de ataque ao patrimônio público. A estrutura física precisa de melhorias, o número de educadores é insuficiente para atendimento da demanda, dentre outros problemas. Também não há mais integralidade no atendimento. Para nós, estudantes, a situação é ainda pior porque só temos direito às vagas remanescentes”, queixou-se a discente, informando que por conta da interrupção no atendimento, tem de levar a filha para a sala ou, em alguns momentos, deixar a criança aos cuidados dos amigos para que assista às aulas e o companheiro dê continuidade às atividades da pós-graduação.

Projetos pedagógicos
A creche possui diferentes projetos pedagógicos, voltados por grupo de crianças, que são desenvolvidos conforme a necessidade de cada faixa etária. São divididos em cinco áreas: matemática, linguagem, natureza e sociedade, movimento, além de artes. Entre os projetos, Projeto Letras e Nomes, que atua no processo de letramento da criança; Projeto Animais, voltado ao conhecimento dos animais e dos sons emitidos por eles; Projeto da Área de Matemática, desenvolvido para familiarizar a criança com os números; e o Projeto Riscos e Rabiscos, responsável por trabalhar a coordenação motora através do uso de recursos como graveto, carvão, giz de cera, pincel atômico, etc.

As ações pedagógicas da creche são voltadas ao cuidar e ao educar dos menores. A unidade possui capacidade para atender 108 meninos e meninas, com idades entre seis meses e três anos. O funcionamento é das 7h às 13h e das 13h às 18h. Não há mais turno integral de atendimento.

Atualmente, o atendimento está reduzido (há somente 79 crianças na creche) porque não houve, este ano, matrícula para os filhos dos estudantes. A seleção para as crianças dos discentes não ocorreu porque não há educadores suficientes para atendimento da demanda.

Entenda o caso
A interrupção do serviço na creche da universidade foi anunciada oficialmente pela administração no dia 5 de junho. Segundo os gestores, a medida foi adotada em função da insuficiência de profissionais para atendimento da demanda, já que os contratos da maior parte desses encerraram, e da impossibilidade de realização de um processo seletivo simplificado (edital de seleção n°001/2017), impedido de transcorrer por conta de uma representação movida pelo Sintest junto ao Ministério Público (MP) pedindo a suspensão do referido edital.

Recentemente, após algumas reuniões, foi assinado um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) no qual a administração da Uefs se comprometeu a realizar ajustes no edital nº 001/2017 como condição para prosseguimento do processo seletivo. O documento passará pela homologação do Conselho Superior do Ministério Público, que se reúne quinzenalmente, todas as terças-feiras, na capital baiana.

Preocupada com a situação, a diretoria da Adufs vem pressionado a reitoria para que cobre da Justiça a inclusão da pauta o quanto antes na reunião do Conselho Superior do Ministério Público. Também se reuniu com os professores para ouvir a categoria e esclarecer a situação. 

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