Candidatos à reitoria defendem gestão democrática
24/03/2015
Em entrevista à Adufs, Evandro do Nascimento Silva, candidato ao cargo de reitor da Universidade Estadual de Feira de Santana (Uefs), e Norma Lúcia Fernandes de Almeida, candidata ao cargo de vice, falam sobre os projetos para a instituição e reforçam a necessidade de continuar a proposta de independência de governos, segundo os docentes, iniciada há oito anos, para a garantia de uma instituição pública e socialmente referenciada. Firmes na defesa de um projeto de gestão baseado na democracia, ressaltam a importância de investir na qualificação do quadro de servidores, sem descuidar das políticas de saúde, além de se comprometer com ações de permanência estudantil.
Atentos à crise orçamentárias nas universidades, os postulantes à vaga na Reitoria sabem que precisarão dialogar muito junto ao governo do Estado em defesa da educação pública superior e dos 7% da receita Líquida de Impostos (RLI) para as instituições. O mandato é para o quadriênio 2015-2019.
Seguindo uma prática do grupo político do qual fazem parte, o Mais Uefs, no qual candidato à reitor e vice tem a mesma participação nas decisões e discussões, ambos concederam entrevista à Adufs.
Adufs - No programa de gestão, afirma-se que a chapa representa a mudança. Quais seriam essas mudanças?
Candidatos - Há oito anos, quando a comunidade universitária elegeu o grupo Mais Uefs, nós falávamos dessas mudanças. Nós tínhamos um histórico de gestões que possuíam práticas que não concordávamos, a exemplo da falta de democracia e do alinhamento com governos. Essa relação dificultava as ações na instituição. A mudança era para que tivéssemos uma instituição mais democrática, com relações mais transparentes e que ela fosse efetivamente pública, de excelência, socialmente referenciada, e que, sobretudo, mantivéssemos a reitoria como legítima representante da comunidade, independentemente de qualquer grupo ou governo.
Adufs – O senhor acha que nesses oito anos houve uma mudança significativa nesse sentido?
Candidatos - Sim. Hoje, a universidade está mais democrática e a comunidade participa das decisões junto com a administração.
Adufs - Ainda no programa de gestão, menciona-se um passado recente de subserviência a governos ou grupos. A que estão se referindo?
Candidatos – Só para dar um exemplo, hoje nós trazemos à tona para a comunidade, todos os problemas que nós temos. Antes isso seria impensável. Havia uma clara intenção de preservar o governo de críticas. É nesse aspecto que a gente coloca a subserviência.
Adufs - A chapa apresenta cinco diretrizes gerais no programa de gestão. Alguns desses podem ser destacados como prioridade?
Candidatos - Todos são importantes. Nas diretrizes para o Ensino de graduação, destacamos o fortalecimento dos cursos através da implantação de programas; além do estímulo aos colegiados para que aperfeiçoem os projetos pedagógicos dos cursos. Temos cursos que não atualizam seus projetos há mais de dez anos. Com as mudanças tecnológicas e sociais, é preciso que esses projetos sejam revisados. Na área da Pesquisa e Pós-graduação, consolidar formas de participação dos analistas universitários como pesquisadores e proponentes de projetos. Essa é uma reivindicação histórica da categoria. Também pretendemos fortalecer ainda mais os cursos e programas de pós-graduação Stricto Sensu que nós temos, pois, de 2007 até então, o número desses programas dobrou na Uefs. Em se tratando da Extensão e da Cultura, defendemos o fortalecimento do modo de fazer a extensão, porque a que nós tínhamos há oito anos era muito assistencialista e não havia uma troca de saberes das comunidades e dos acadêmicos. Agora, junto com a comunidade, discute-se o que é melhor ser feito.
Sobre Gestão e Financiamento, destaco a criação da Pró-reitoria de Gestão de Pessoas. Há a necessidade de capacitar os nossos servidores, investir no desenvolvimento das carreiras, encontrar formas de valorizar o servidor e atentar para a sua qualidade de vida e saúde. Essas ações também se estendem aos docentes, já que sabemos que a forma como se faz a vida universitária está trazendo alguns problemas, a exemplo da depressão e do desânimo. Em relação à política de Permanência estudantil e Ações afirmativas, temos um grande desafio. O principal é buscar junto ao governo dotação orçamentária específica para essa demanda. Essa é uma luta que deve ser das quatro universidades, incluindo reitorias, DCEs e sindicatos.
Adufs - O senhor falou em dotação orçamentária específica para a permanência estudantil. Existem projetos que o grupo pretende implantar ou, ainda, ampliar algum outro existente?
Candidatos - Na Uefs, a Pró-reitoria de Ações Afirmativas e Assistência Estudantil foi criada em setembro do ano passado. Internamente, ela já começou a discutir uma proposta de política de permanência para a categoria, a partir de agora, essa proposta será debatida com a comunidade universitária. Existe a proposta de considerar a permanência não só na ótica material, a partir do oferecimento do serviço de bandejão, de bolsa e de residência, mas garantir o acompanhamento psicopedagógico e acadêmico. Sabemos que existem estudantes que ingressam na instituição precisando fazer um curso de nivelamento. No momento, todo esse processo está em construção porque a pró-reitoria foi criada ano passado.
Adufs - Alguns segmentos da sociedade e membros da comunidade universitária consideram que é preciso haver uma integração maior entre a vida cultural do município e o trabalho desenvolvido pela Uefs. Qual a proposta para fortalecer essa relação, uma vez que a extensão faz parte do tripé ensino e pesquisa, que são indissociáveis no processo de construção do conhecimento acadêmico?
Candidatos - Nós temos várias ações que foram estruturadas e que precisam ser continuadas. Temos a Feira de Livro, que incentiva a formação de leitores; o Aberto do Cuca, implantado com a proposta de abrir espaço para as pessoas que trabalham com arte e cultura nas mais variadas linguagens, etc. Iremos despertar talentos regionais que não têm o apoio da produção cultural mercadológica. A universidade pública, por não ter esse compromisso mercadológico, é a única capaz de dar espaço e voz aos novos artistas. Também vamos manter a Caminhada do Folclore; o Festival de Sanfoneiros; a valorização dos violeiros e do cordel; além do Bando Anunciador. Em função das ações da Uefs, acredito que a cultura municipal tem conseguido algo que há oito anos era um sonho nosso: a formação de plateia. Acredito que a ampliação da participação popular nesses eventos mostra que estamos conseguindo este objetivo. Há oito anos, o Cuca era muito utilizado para eventos comerciais e, hoje, temos dezenas de eventos gratuitos que têm o papel de valorização da cultura regional.
Adufs - Tendo em vista a atual crise orçamentária nas universidades, sobretudo o entrave nas negociações com o governo, qual o plano de ação para minimizar os problemas vividos pela Uefs?
Candidatos - As quatro universidades estão na mesma situação e não existe saída sem a articulação entre elas. Existem situações mais sérias em algumas. Eleitos, estaremos no Fórum de Reitores somando forças para buscar negociação com o governo do Estado, no sentido de obter mais recursos para as universidades. Fora isso, é perceber que a universidade pode parar, e nós não queremos isso.
Este ano, o orçamento das universidades estaduais baianas chegou em 5% da Receita Líquida de Impostos (RLI). O problema é que o governo do Estado trata o orçamento das quatro universidades apenas com a frieza dos números de uma planilha. Alega que não pode ultrapassar esse índice e reduz o valor destinado às instituições. Na Uefs foram retirados R$ 1,8 milhão da verba custeio e investimento. Se o orçamento ficar estagnado em 5% da RLI, não haverá sustentabilidade para as universidades a longo prazo, pois a folha de pessoal tenderá a chegar cada vez mais perto do 90 a 95% do orçamento. O resto que sobrar não dará para manter a Uefs funcionando.
Sabemos que a reivindicação do Movimento Docente é de 7% da RLI. O governo tem de sinalizar com a possibilidade de aumento do percentual. A perspectiva atual é de caminharmos para a insustentabilidade, por isso, o grande desafio para o quadriênio será a questão orçamentária.
Adufs - Do ponto de vista da autonomia da gestão, como o senhor avalia o atual contexto na Uefs?
Candidatos - Evandro do Nascimento – Existem decretos de contingenciamento que estabelecem muitas regulamentações e trazem impactos negativos à administração. Quando temos amarras burocráticas para executar simples compras, a vida da universidade fica muito difícil. O último decreto que saiu fazendo orientações sobre despesas, por exemplo, submete a universidade à Saeb. Até que esses processos cheguem em Salvador e tenham alguma resolução, o tempo passa, e as coisas se complicam. Nós precisamos reforçar a luta pela revogação da lei nº 7176, que é uma bandeira histórica das universidades, com substituição por outra lei que lhes dê mais autonomia.
Adufs – Ambos os candidatos foram diretores da Adufs. O professor Evandro integrou a coordenação entre os anos 2000 e 2002, e a professora Norma de 2004 a 2008. Qual a contribuição das lutas travadas durante o período que esteve à frente da instituição, para o trabalho a ser realizado na reitoria?
Candidatos - Na conjuntura atual que vivemos, as entidades têm um papel político muito importante na construção da universidade. Um exemplo foi a reforma do Estatuto da instituição. A nossa experiência como diretores da Adufs, é que nós aprendemos que a universidade é um espaço constante de disputa, diálogo e construção partilhada entre todos. As entidades têm suas reivindicações, as apresenta à reitoria, que discute as demandas da instituição em respeito à toda a comunidade acadêmica.
Conheça um pouco sobre o perfil dos candidatos:
Evandro do Nascimento Silva, 43 anos, nasceu em João Pessoa (PB). Fez graduação em Ciências Biológicas e mestrado em Ciências Biológicas (Zoologia) pela Universidade Federal da Paraíba e doutorado em Recursos Naturais e Meio Ambiente pela Universidade de Michigan (2007). É servidor da UEFS desde 1998 e, atualmente, é professor titular do Departamento de Ciências Biológicas e Editor Associado do periódico Sociobiology. Foi Chefe de Gabinete (2007-2011) e Assessor Especial (2012-2014) da Reitoria da Uefs. Até o dia 4 de março deste ano, exerceu o cargo de Assessor Técnico de Recursos Humanos da Pró-reitoria de Administração (Proad) da Uefs.
Natural de Capela do Alto Alegre, Norma Lúcia Fernandes de Almeida, 46 anos, é graduada em Letras na Uefs e desde 1993 é professora da instituição. Fez mestrado na UFBA (1997) e o doutorado na UNICAMP (2005). Participou ativamente da construção do Mestrado em Estudos Linguísticos da Uefs. Foi coordenadora da Pós-Graduação em Letras (2006-2007), membro da Câmara de Assessoramento da Área de Linguagens e Artes da FAPESB (2009-2012), Coordenadora do PIBIC/UEFS (2009-2012). Atualmente é coordenadora de Pesquisa/ PPPG/Uefs.