Biênio 2019-2021 chega ao fim encerrando uma gestão marcada por greve, pandemia e aproximação do sindicato com a sociedade

07/04/2021

Com mandato iniciado em abril de 2019 durante assembleia que também deflagrou greve docente na Universidade Estadual de Feira de Santana, o grupo que esteve à frente da Adufs no Biênio 2019-2021 não poderia imaginar que este seria apenas um dos grandes desafios que ainda enfrentaria durante sua gestão no sindicato e que esta seria encerrada em um cenário pandêmico que transformou completamente as relações de trabalho e reforçou a importância do enfrentamento coletivo como estratégia indispensável na defesa da classe trabalhadora.

Com o governo Bolsonaro nos primeiros meses no poder, a situação já apontava para um cenário de grandes perdas que toda a população brasileira, e principalmente os mais vulneráveis, vivenciaria nos próximos anos. Não era difícil prever que este governo seria marcado por açoes perversas contra as instituições públicas e seus servidores. Toda a conjuntura exigiu ainda mais a atuação do sindicato.

Para o membro da diretoria, Haroldo Benatti, fazendo o resumo da gestão é possível identificar alguns pontos altos por ordem de acontecimentos nesse período. O professor destaca: “a greve no início da nossa gestão; a luta contra a Reforma da Previdência; a mobilização e pressão para fazer a Mesa de Negociação andar; e, mais recentemente, a articulação da categoria para discutir a realidade diante da Pandemia, em particular, as condições e consequências da oferta remota”, afirma.

Num cenário nacional de completa tensão com o início do governo Bolsonaro, que desde os primeiros dias evidenciou seu completo alinhamento com
A diretoria eleita enfrentou logo de entrada uma greve de mais de 60 dias, entre abril e junho, que tinha como principais reivindicações: Recomposição da inflação; orçamento de 7% da RLI para as universidades; garantia do cumprimento do Estatuto do Magistério Superior das promoções e progressões; a luta contra o contingenciamento orçamentário e aumento do quadro de vagas e desvinculação vaga/classe.

Após um período exaustivo que envolveu cortes de salários, diversas mobilizações e acampamento na Secretaria de Educação, em Salvador, com direito a “recepção” policial autorizada pelo governo do Estado que enviou policiais para negociar com docentes e discentes ocupados, a greve chegou ao fim com resultados expressivos. Entre eles: Realização de até 900 promoções docentes no ano de 2019 e a liberação imediata de R$ 36 milhões para a rubrica de investimento do orçamento das universidades estaduais baianas. Votação em caráter imediato do Projeto de Lei (PL) das promoções na Assembleia Legislativa da Bahia. Constituição de uma mesa permanente de negociação como um canal de diálogo entre o Movimento Docente e o Estado.
Para Jucelho Dantas, membro da coordenação geral, assumir a coordenação neste período foi extremamente desafiador: “Nós assumimos a coordenação da Adufs já com essa empreitada pela frente de assumir a greve. Na greve todo um processo penoso de negociação, depois os acordos com o Governo do Estado para promoções, progressões, a mesa de negociação onde permanecemos por um tempo enfrentando grandes dificuldades com os entraves do governo. Depois que terminamos a greve, vieram difíceis momentos na luta pela devolução dos salários parcelados e problemas com RH Bahia”, relata.

Os erros nos pagamentos de salários, descontos indevidos e faltas contestadas geraram ainda mais desgaste no processo pós-greve. Passado este período, a discussões sobre a Reforma da Previdência que já vinham ganhando força e contestação por parte dos trabalhadores e trabalhadoras vieram para o centro das mobilizações com o envio do projeto para a Assembleia Legislativa da Bahia (Alba). Como sempre, de forma sorrateira e perversa, o governador Rui Costa (PT) tratou de apressar o processo de desmonte dos serviços públicos por meio da precarização das relações trabalhistas.

Como narra André Uzêda, também membro da coordenação geral: “Primeiro veio a suspensão da mesa de negociação em novembro, numa evidente demonstração de total desrespeito com o acordo firmado no período grevista. Em seguida, logo em dezembro, nos engajamos no enfrentamento contra a Reforma, realizando uma série de reuniões com diversas representações do funcionalismo público de toda a Bahia, promovendo resistência na ALBA junto a outros sindicatos, mas infelizmente a Reforma foi aprovada, em mais um golpe contra os trabalhadores e trabalhadoras.

O ano de 2019, como destaca o professor Jucelho Dantas, também foi marcado por projetos realizados pela diretoria com objetivo de melhorar a estrutura interna e dar melhores condições para a categoria se reunir. “Fizemos uma Reforma na Adufs, em sua estrutura interna, adquirimos móveis, substituímos os aparelhos de ar-condicionados, fizemos reformas nas instalações elétricas”, conta.

Pandemia

Já em 2020, todo o processo previsto para realizações de ações inclusive visando encaminhar o projeto de construção de uma nova sede para Adufs foi atravessado pela Pandemia. A partir de então, a necessidade do sindicato de se reinventar para atender as necessidades da categoria, respeitando as limitações impostas pelo necessário distanciamento social e demais medidas de segurança no combate à proliferação do novo coronavírus.

O sindicato manteve sua defesa inegociável por melhores condições trabalhistas para os (as) docentes e se opôs às propostas de Ensino Remoto operacionalizadas pela Reitoria que, como sabemos, traz prejuízos tanto para servidores técnicos quanto para discentes. As atividades remotas não apenas precarizam as relações trabalhistas, mas trazem à tona uma face cruel do desmonte das instituições públicas por meio da desqualificação dos serviços. A luta em defesa das instituições levou a Adufs ainda mais para fora dos muros da universidade.

Mesmo com a pandemia, ressalta Marilene Rocha, o empenho da direção em estender as lutas em prol de toda a sociedade prevaleceu: “Diretores e Diretoras estiveram presentes nos espaços possíveis e no movimento de rua durante a pandemia, respeitando todas as medidas de segurança. Participamos no primeiro momento com a distribuição de cestas básicas, compra de insumos para a fabricação de máscaras, compra de uma máquina 3D para aceleração da produção das máscaras e distribuição para os profissionais de saúde na linha de frente na comunidade interna e externa”, ressalta.

O professor Jucelho Dantas complementa: “Realizamos diversas ações voluntárias, várias campanhas de doações de alimentos, campanha de mídia com carros de som alertando a à população sobre os perigos da pandemia e necessidade de proteção. Englobamos as lutas dos camelôs em Feira de Santana. Nos engajamos junto ao Comitê de entidades de Feira de Santana no Fora Bolsonaro, pela vacinação gratuita e em massa e em defesa do Auxílio Emergencial. Além disso, estamos entregando a Adufs numa situação financeira melhor do que foi encontrada. O saldo hoje é superior ao encontrado antes da greve. Por conta da pandemia foi possível fazer essa economia e uma boa poupança para o sindicato”, ressalta.

Para a professora Marilene Rocha, o estreitamento dos laços do sindicato com a comunidade foi um dos pontos altos de 2020: “A aproximação com a sociedade nos momentos mais difíceis que passamos em 2020 foi algo que nos aproximou e mostrou que o sindicato está presente também nos momentos de ausência do poder público. Levando não apenas a assistência, mas a discussão sobre temas políticos tão caros para a sobrevivência digna e o bem estar da população”.

Fortalecimento da Base

Cuidado e união, são palavras que resumem a trajetória do ano que passou. Em um cenário completamente novo, marcado por tragédias cotidianas que ainda se acumulam nos tristes números de vidas perdidas para a Covid-19, o sindicato realizou ações internas que demonstraram a importância da coletividade no cuidar para promover o bem-estar de professores e professoras.

As atividades de socialização que seguem sendo um momento especial das gestões como um todo do sindicato, de 2019 pra cá ganharam uma proporção especial diante da evidente sobrecarga física e emocional que a categoria enfrenta com as alterações nas relações pessoais e de trabalho.

Momentos especiais de reencontro, trocas de olhares e afeto, mesmo com a utilização de máscaras e com distanciamento social, trouxeram um gás novo para a continuidade nos processos de enfrentamento. Desde a confraternização de Natal em 2019 isso estava visível, mas a entrega das cestas no Dia do (a) Professor (a) e a do kit Natalino  foram ainda mais especiais depois de tanto tempo distantes.

A defesa intransigente pela classe trabalhadora continua sendo a marca principal do sindicato que mais próximo que nunca da sociedade, deve pautar novas discussões e enfrentar muitos outros desafios na sua próxima gestão que se inicia. Os embates contra as múltiplas opressões estão longe de acabar, mas a certeza de que a luta coletiva é a única alternativa mesmo em tempos de tristes e solitárias distâncias, reacende a chama em defesa das liberdades democráticas em todas as suas instâncias. Para o professor Haroldo Benatti o objetivo segue o mesmo: “O principal desafio continua sendo romper o cerco que o governo federal e estadual estão impondo ao funcionalismo público, desestruturando carreiras, previdência, estabilidade. Hoje é fundamental que consigamos unir forças para reverter este projeto de desmonte. A Adufs sendo um sindicato historicamente independente de gestores, governos e partidos políticos tem um papel importante nesta luta. Estar na direção é uma forma de contribuir com os objetivos mencionados”, afirma.

Ao fim de uma gestão marcada por enfrentamentos desde o dia da posse, o sentimento é de gratidão a todo grupo que esteve empenhado em manter viva a chama da transformação social. À Diretoria, os nossos mais sinceros votos de luta, na certeza de que continuaremos juntos (a) na defesa da categoria docente, pelos direitos dos trabalhadores e trabalhadoras em geral, em prol das instituições públicas e de uma educação pública, gratuita e de qualidade que se afirme na contramão de quaisquer tipos de opressão.
 

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