Com o fim do auxílio emergencial e aumento do desemprego mais trabalhadores devem entrar na informalidade

05/01/2021

A situação do mercado de trabalho brasileiro já era preocupante antes da pandemia, mas com as crises sanitária e econômica que se instalaram com o novo coronavírus o desemprego aumentou e empurrou mais pessoas para a informalidade, tornando o quadro nacional ainda mais grave. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD), já em 2019 o número de trabalhadores (as) informais chegava a 40% daqueles (as) inseridos (as) no mercado de trabalho, o que equivale a um total de 38 milhões de pessoas.

Somente nos primeiros seis meses de 2020 mais de 12 milhões de trabalhadores (as) perderam o emprego formal, a consequência disso é o aumento exponencial da miséria e da precarização das relações trabalhistas. O economista e professor da Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS) que também desenvolve pesquisa sobre mobilidade urbana, Antonio Rosevaldo, explica como o que está ocorrendo é uma consequência do meio de produção capitalista: “O Capitalismo só deu certo para uma minoria! Infelizmente a fome voltou com força e pessoas estão em estado de miséria absoluta. Não se precisa nem apresentar dados estatísticos, basta um olhar nos semáforos e ruas do país. As tristes lonas amarelas substituem as causas perdidas, a esmola volta a ser forma de sobrevivência”, afirma.

A falta de direitos trabalhistas abre espaço para a exploração ainda maior do (a) trabalhador (a) que precisa se submeter a condições degradantes para sobreviver. Este processo de ampliação da lucratividade capitalista em detrimento das melhores condições de vida dos (as) trabalhadores (as) foi ampliado com o que vem sendo chamado de uberização do trabalho e tem os aplicativos como principais ferramentas. “Este processo vem sendo acurado através da precarização dos empregos, a chamada uberizacao dos empregos. O desgaste das famílias lutando pela sobrevivência, vem sendo efetivado de forma perversa [...] Sem sindicatos, sem governo, eles começam a se organizar nacionalmente, sem partidos políticos por trás, fazem de seu sofrimento a sua formação política. Sem seguro, são assaltados impiedosamente por cima pelos donos de aplicativos e por baixo com os clientes e falsos clientes”, enfatiza o professor.

Para o professor, a única alternativa é a ação da classe trabalhadora em conjunto com partidos, organizações e instituições comprometidas com pautas progressistas: “O neoliberalismo causa a destruição do tecido social e os partidos de esquerda, os coletivos precisam urgentemente levantar a bandeira da revogação das reformas da previdência e do trabalho; elas conseguiram destruir a economia, reduzindo a demanda. Portanto, necessário se faz que a classe trabalhadora tensione em busca da retomada de seus direitos”.

Nesse contexto de privação de direitos, a situação dos (as) trabalhadores (as) informais de Feira de Santana merece atenção especial. Desalojados em meio à pandemia, foram expulsos (as) dos seus locais de trabalho (link) por conta de um projeto excludente de revitalização do espaço urbano da gestão Colbert Martins que removeu as barracas das ruas do centro da cidade. Para a professora da UEFS, doutora em Geografia, Alessandra Teles, a situação dos (as) trabalhadores (as) informais de Feira de Santana é de exclusão e exploração, já que são colocadas condições econômicas inviáveis para o exercício de suas funções: “Analisando o percurso histórico do trabalho em Feira de Santana é possível concluir que sua formação e consolidação ocorreu através do trabalho informal. A feira que é o ponto de origem da aglomeração humana e urbana é um trabalho essencialmente informal. Porém, os agentes políticos à frente da administração da cidade sempre olharam a feira como sinônimo de atraso e buscaram colocar a cidade numa era de modernidade. Ontem e hoje, o trabalhador informal é visto como retrocesso, como ruralidade e esses elementos não cabem numa urbanidade moderna, metropolitana; então o poder público sucessivamente busca desarticular a atividade desse segmento seja supostamente reorganizando o espaço ou utilizando da força para desocupar locais considerados valorizados e estratégicos”, explica a professora Alessandra que é integrante do Grupo de Estudos e Pesquisa em Economia Popular e Solidária e Desenvolvimento Local e desenvolve pesquisa nas feiras livres e com os trabalhadores informais.

Diante dos fatos ocorridos em 2020, a expectativa é de que o cenário de 2021 seja ainda mais difícil já que a gestão municipal não tem apresentado saídas para os (as) trabalhadores (as): “A situação de desemprego para 2021 tende a piorar diante do cenário posto em 2020. Nada de fato foi feito pensando nas atividades econômicas presentes no município e pelo trabalhador informal em Feira de Santana. Diante desse cenário, e com o fim do auxílio emergencial do Governo Federal, o número de pessoas que vão buscar na informalidade uma alternativa de sobrevivência será uma realidade crescente e com o agravante de não poder utilizar a circulação de pessoas nas ruas da cidade para ofertar produtos e serviços”, conclui.
 

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