Para primeiro transgênero formado na história da Uefs, condição de vida destas pessoas é de exclusão

02/10/2018

Bruno Silva de Santana, 29 anos, é o primeiro transgênero a se formar pela Universidade Estadual de Feira de Santana (Uefs) em 42 anos de história da instituição. Para ele, que percorreu caminhos de muitas dificuldades para o acesso ao ensino superior público e à permanência na graduação em Educação Física, a formatura, antes de ser motivo de orgulho, é um momento de reflexão.

Apesar de bastante feliz, Bruno Silva faz uma análise crítica sobre as condições de acesso das pessoas transgêneras à universidade pública e aos direitos sociais. Segundo Silva, “diversas vezes tive o meu corpo negado e silenciado pelos professores, que em suas práticas pedagógicas legitimavam determinadas identidades e práticas sexuais que se encaixavam dentro da normatividade. A falta de conhecimento sobre as identidades de gênero, por exemplo, tem levado muitos deles a cometerem equívocos, violências e invisibilizações em suas aulas. Essas práticas afetam as pessoas trans e travestis, que não conseguem permanecer por muito tempo nesses espaços. A negligência das políticas públicas tem feito com que nossa população não complete nem o ensino médio, empurrando-nos para trabalhos precários, impróprios, mal remunerados e à prostituição. Por isso, essa conquista não é motivo de orgulho, é mais um grito de um sobrevivente, um alerta. Que sirva de reflexão não somente para a instituição, mas para toda a sociedade brasileira”.

Bruno Silva ainda afirma que “minha militância no curso foi no sentido de ir contra essas normatizações, colonizações, engessamentos e binarismos de gêneros”. Ele pontua que descobriu a identidade de gênero diferente do sexo atribuído ainda na adolescência. A transgeneridade foi assumida em 2014, no ambiente acadêmico, quando iniciou o processo de autoidentificação.

A cerimônia de colação de grau de Bruno Silva de Santana ocorreu no dia 20 de setembro deste ano. 

Leia o discurso de Silva na formatura. 

Uefs
Na Uefs existe uma resolução que dispõe sobre a reserva de vagas para os cursos de graduação aos grupos historicamente excluídos. O documento, em discussão pela comunidade universitária, contém uma vaga para os transexuais e travestis. Além disso, o que tem sido feito são apenas discussões pontuais através de alguns eventos e debates.

A vice-reitora Norma Lúcia Fernandes, presidente da Comissão de Ações Afirmativas da Uefs, informa que é necessária a ampliação das políticas afirmativas para os transgêneros na universidade e que a inserção, ainda que tímida, desta população na instituição contribuirá para tal processo.

Questionada sobre a reserva de cotas para os transgêneros na pós-graduação, a vice-reitora falou que nos dias 17 e 18 de outubro deste ano será realizado o I Seminário de Pós-Graduação da Uefs. No segundo dia do evento haverá uma mesa sobre cotas na pós. A gestora acredita que os transgêneros serão incluídos na discussão.

Exclusão e morte
Dados da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra) apontam que o Brasil concentra 82% de exclusão escolar de travestis e transexuais, uma situação que aumenta a vulnerabilidade dessa população e favorece os altos índices de violência aos quais estão expostos. Uma minoria consegue acessar o ensino superior, mas a permanência não é garantida por conta dos desafios postos. A Antra informa a existência de, apenas, 15 doutoras trans no país. A estimativa é de 0,02% da população trans nas universidades.

Além do processo de exclusão ao qual estão submetidos, o Brasil é o país que mais mata transexuais no mundo. Entre 2008 e 2016, 868 travestis e transexuais foram assassinados. Em 2017, o registro é de um assassinato a cada 48 horas. Este ano, até o dia 26 de setembro, foram 122 assassinatos. Os estados que mais assassinam Travestis e Transexuais do Brasil são: Paraíba, Alagoas, Roraima, Tocantis, Ceará, Espírito Santo, Mato Grosso, Pernambuco, Acre e Amazonas. 

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