Roberto Leher critica mercantilização da educação
24/11/2015
Para entender a crise no ensino superior brasileiro é necessário considerar a organização do Estado, bem como as relações político-econômicas estabelecidas no sistema capitalista, segundo o reitor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Ufrj), Roberto Leher. O docente proferiu palestra na Aula Magna da Uefs desta segunda-feira (23).
Roberto Leher fez um breve contexto histórico sobre a concepção do projeto de universidade pública no país, revelando que o ensino superior foi impulsionado pela ampliação das matrículas no ensino médio, pelo recrutamento da força de trabalho nas indústrias e pela cobrança popular por democratização do acesso às universidades, entre os anos 60 e 80. No entanto, o grande impulsionador da expansão foi o setor privado, inicialmente controlado por empresas e, após o golpe militar, por corporações e fundos de investimento com grande participação de capital estrangeiro.
“O governo induziu a abertura de vagas no setor privado, em instituições universitárias ou não, por meio de isenções tributárias e empréstimos estudantis subsidiados pelo poder público. Assim, contemplaria a necessidade de mão-de-obra do mercado e os interesses capitalistas dos empresários da educação, segmento que demonstrara força política no processo de elaboração da Lei de Diretrizes e Bases. Difundiu-se um padrão de educação minimalista e desvinculado das necessidades da população do país”, criticou o docente, ressaltando que a ditadura militar colocou em evidência o modelo privado-mercantil, em vigor até então.
Nos dias atuais, o governo federal impõe um ajuste fiscal que corta parte das parcas verbas das universidades públicas, agravando uma crise financeira instalada ao longo dos últimos anos e comprometendo o pleno funcionamento das instituições. Por outro lado, o Ministério da Educação, conforme Roberto Leher, tem como foco o fundo de investimento que controla as instituições privadas. O pesquisador cita a fusão da Anhanguera e Kroton, que tem mais estudantes que todas as 63 federais juntas.
“As universidades devem pensar projetos e pesquisas que dialoguem e interajam com a população, nas mais diversas áreas”, afirmou. Ao final da fala, convocou os novos alunos a endossarem a luta da comunidade acadêmica em defesa do caráter público da universidade.
Ainda na Aula Magna, o reitor Evandro do Nascimento falou que, ao longo das décadas, a Uefs tornou-se mais democrática e participativa por conta da mobilização da comunidade acadêmica. “Por isso, não desistam diante das adversidades atuais. A Uefs é um patrimônio da população”, disse. Representante dos técnico-administrativos também compuseram a mesa.
Adufs
Presente na mesa de abertura da Aula, o diretor da Adufs, Edson do Espírito Santo, informou sobre o projeto do governo de precarização das condições de trabalho e estudo nas Universidades Estaduais da Bahia (Ueba), e ressaltou as ações do Movimento Docente (MD) para garantir os direitos trabalhistas da categoria e a ampliação do orçamento em 2016.
O sindicalista convidou os presentes a participarem do ato público na Assembleia Legislativa (AL-BA), da Assembleia Geral Universitária para discussão do orçamento e do Dia Estadual de Luta contra os cortes na educação pública, em 1º, 3 e 10 de dezembro, respectivamente. Também, referindo-se à etapa preparatória ao Encontro Nacional da Educação (ENE), a ser realizado em abril, ratificou: “Precisamos fortalecer a unificação da luta”.
Edson do Espírito Santo compôs a mesa de Abertura da Aula